Eu me assustei quando ouvi o barulho da chave na porta, olhei no relógio e ainda não tinha completado nove. Em uma sexta-feira a noite. Surpreendente. Arrumei o meu cabelo e fingi que estava interessada no programa que passava na televisão. Sei exatamente o sorriso que ele deu quando ouviu o barulho da tv e se deu conta de que eu estava em casa. Fiquei imóvel no sofá, ouvi o barulho do armário batendo, da porta da geladeira, da torneira.
Quando ele entrou na sala com um copo de água na mão eu o achei lindo. Tinha esquecido do seu jeito de andar, de deixar o cabelo bagunçado. Ele me estendeu o copo sem tirar os olhos dos meus e colocou o remédio na minha boca. Eu tomei engolindo as lágrimas.
- Tinha certeza que você ia esquecer. Tem que se cuidar, se acontecer alguma coisa com você... ah. Não esquece de tomar, por favor.
Não disse nada. Coloquei o copo no chão e levantei a coberta, abrindo espaço pra ele sentar do meu lado. Ele parecia assustado, mas sentou e tirou os sapatos. Ficou me olhando com um ponto de interrogação no olhar até que perguntou se eu pintei o cabelo. Eu respondi que o que ele via de diferente em mim não era físico. Eu abri meus braços pra ele se aconchegar melhor. Deitou no meu peito e perguntou se podia pedir uma coisa. Pode.
- Quando formos dormir, não vira as costas pra mim não. Me abraça, me deixa te abraçar, encosta sua mão na minha, joga uma perna em cima de mim, qualquer coisa. Eu preciso muito disso, eu juro que preciso.
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