segunda-feira, 10 de outubro de 2011

que bom que você existe.

Falar de quem a gente ama é difícil. Falar de quem a gente ama há tempos, é um pouco mais.

No começo do namoro era fácil. Frio na barriga, expectativa, descobrindo coisa nova um do outro todo dia. Depois de alguns anos, a gente sabe basicamente tudo um do outro. A quantidade que a pessoa come, o jeito que ela dorme, quanto tempo ela demora no banho, o quanto ela sabe ser chata quando quer. Amar alguém no começo, quando você só conhece o que a pessoa tem de bom, é fácil. Continuar amando enquanto você começa a reparar nas imperfeições que é difícil. Elas sempre estiveram lá, mas o amor é uma coisa tão linda que espera ficar forte o suficiente pra permitir que você veja e saiba aceitar.

Mas a gente acaba que se perde na rotina. Não tem jeito, é inevitável. A gente mergulha nesse dia a dia maluco e às vezes acha que vai se afogar no meio de tanto problema. É o pedreiro que faltou, o cheque que voltou, a conta que tá negativa, o trânsito que tá pesado, o chefe enchendo o saco. E um dia, você vê a pessoa de longe, conversando com alguém e pensa, cheia de orgulho, que aquela pessoa ali, faz parte de você. E melhor ainda, que você faz parte dela também. Que em cada palavra que ele fala, cada pensamento, existe um pedacinho de você. E que essa pessoa está do seu lado. Literal e metaforicamente. A pessoa está ali, para evitar que você se afogue ou para se afogar junto com você, não importa.


Que bom que você existe.
Feliz aniversário. <3

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Falso Brilhante (Carpinejar)

Há o condicionamento de que amor mesmo, de verdade, é gastar metade do salário para a esquadrilha da fumaça assinar o nome da namorada pelos céus de Porto Alegre.

Temos uma noção de que amor mesmo, de verdade, é exibicionista. Depende de surpresas públicas de afeto como serenata na janela, carro de som, anúncios na TV, outdoors com pedido de casamento.

Mulheres e homens se desesperam por um amor público, encantado, de estádio cheio, e cobram provas mirabolantes de seus parceiros. Reclamam da rotina, da previsibilidade, e exigem declarações barulhentas para despertar a inveja do próximo.

O amor espalhafatoso recebe a fama, mas o amor contido é o mais profundo.

Ao procurar o amor empresarial, desprezamos o amor funcionário público, que atende às ligações e escreve nossos memorandos.

Ao perseguir o amor de cinema, desdenhamos o amor de teatro, de quem encena a peça todo dia ao nosso lado, sempre com uma interpretação nova a partir das falas iguais.

Ao cobiçar o amor sensual de lareira e restaurante, apagamos a delícia de comer direto nas panelas, sem pratos, sem medo do garçom.

Ao perseguir a aventura, negamos a permanência.

Preocupados em ser reconhecidos mais do que amar, esquecemos a verdade pessoal e despojada do nosso relacionamento. Recusamos o amor constante, o amor cúmplice.

Não valorizamos a passionalidade silenciosa, a passionalidade humilde, a passionalidade generosa, a passionalidade tímida, a passionalidade artesanal.

O passional pode ser discreto na aparência e prático na ternura.

O amor mais contundente é o que não precisa ser visto para existir. E continuará sendo feito apesar de não ser reparado.

O amor real é secreto. É conservar um pouco de amor platônico dentro do amor correspondido. É reservar as gavetas do armário mais acessíveis para as roupas dela, é deixar que sua mulher tome a última fatia da pizza que você mais gosta, é separar as roupas de noite para não acordá-la de manhã. E nunca falar que isso aconteceu. E não jogar na cara qualquer ação. E não se vangloriar das próprias delicadezas.

Buscá-la no trabalho é o equivalente a oferecer um par de brilhantes. Esperá-la com comida pronta é o equivalente a acolhê-la com um buquê de rosas vermelhas.

São demonstrações sutis, que não dá para contar para os outros, mas que contam muito na hora de acordar para enfrentar a vida.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Quote - Monica and Chandler

Monica: All right, what’s going on?
Chandler: Phoebe thinks you and Don are soul mates, and I don’t believe in that kind of stuff. But then you two totally get along. So look, I won’t stand in your way if you want to run off with Don and live in a house of cheese.
Monica: Chandler, you don’t believe in soul mates?
Chandler: No. But I’m sure (mimics Don) ‘tomatoes’ does.
Monica: I don’t believe in soul mates either.
Chandler: You don’t?
Monica: No. I don’t think that you and I were destined to end up together. I think that we fell in love and work hard at our relationship. Some days we work really hard.
Chandler: So you…you don’t want to live with Don in a cheese house?
Monica: No, I’ve had second thoughts about that. Do you realize how hard that would be to clean?
Chandler: I love you.
Monica: I know.

domingo, 2 de outubro de 2011

dos mares e dos medos

Aqui tem sombra, eu fico sentada tomando meu açaí numa cadeira de plástico, que não desequilibra porque tô no cimento, e não na areia. Se eu quiser, eu dou alguns passos e chego até o mar, que é muito calmo, parece uma piscina. Não tem ondas, apenas algumas marolas. Marola é uma palavra tão engraçada. A areia não é muito fofa, então meu pé não afunda, apesar do meu peso. A água não é muito gelada, mergulhar nesse mar é simples, é fácil, é tão seguro. Não corro o perigo de uma onda vir enquanto eu estou distraída e bater contra minha cabeça. Esse mar não é fundo. Eu ando, ando, ando e ele continua na altura do meu umbigo. Na beiradinha as crianças brincam na areia, achando graça das ondinhas que se aproximam fazendo cócegas. Entrando nesse mar, eu não preciso nem molhar o meu cabelo, se eu não quiser. Ele fica com um aspecto péssimo depois de um banho de mar. Posso deixá-lo preso no alto da cabeça, e ele vai continuar seco. Quando eu cansar da água, eu volto para minha mesa de plástico, me seco com uma toalha fofinha longe da areia, porque não existe coisa pior que toalha com areia, e termino meu açaí. Consigo voltar pro carro com os pés limpinhos, sem um grão de areia para sujar o tapete.

A poucos metros desse mar, existe um outro, completamente diferente. Pra mim mar era tudo igual. Areia, água salgada, horizonte sem fim. Se eu quiser ir até esse outro, eu posso. Nada me impede, é só querer, levantar da cadeira de plástico, largar o açaí pela metade e ir. Para chegar lá, preciso passar um caminho de pedras, que machuca muito meus pés porque eu nunca levo chinelo, já que lá não tem nenhuma mesa de plástico pra eu deixá-lo debaixo. Lá a areia é muito fofa, muito quente, não tem sombra. A cada passo meu pé afunda mais, e quanto mais rápido eu ando para diminuir o tempo que meu pé fica em contato com a areia muito quente, eu afundo mais. Mas continuo correndo, porque sei que quando chegar até a água, que é bem gelada, vou conseguir refrescá-los. Para ir até esse mar, eu tenho que ir desprotegida. Sem a saída de banho, sem os chinelos, sem os óculos. Esse mar é violento. As ondas são gigantes e quebram com uma força muito grande, espirrando água para todos os lados. O meu cabelo não sai seco de lá, é impossível. Para entrar nesse mar, você precisa fechar os olhos, correr e mergulhar. Ninguém pode te dizer o que você vai encontrar depois. Depois do mergulho, não dá mais pé. Você não alcança o chão. Você precisa ter muita força e muito fôlego para se manter alí, razoavelmente tranquila. Quando você menos espera, uma onda te pega de surpresa, quebrando com força na sua orelha, e você não vê mais nada. Você ouve o barulho dela quebrando, do lado debaixo. Você não tem coragem de abrir o olho, mas não adianta muito, porque é tudo escuro. Você não sabe mais onde é sul e onde é norte, não sabe mais pra onde fica a superfície.

Antes de entrar nesse mar, a minha mãe me disse: "Filha, não entra". Eu entrei. Achei que estava perdendo os sentidos, estava cansada de bater os braços e as pernas e desisti. Lembrei do que minha mãe me disse e me odiei um pouquinho, mas nada mais importava. Parei de me debater e relaxei. Os braços e as pernas, a cabeça. Na hora eu não entendi o que aconteceu, mas depois descobri que uma onda quebrou forte onde eu estava e me levou para a areia. Senti a areia grossa e quente arranhando meu corpo todo, e percebi que eu conseguia respirar. Respirei e chorei.

Nunca mais cheguei perto daquele mar. Agora não saio mais da minha sombra, não levanto da minha cadeira de plástico e deixo meu açaí. Nem no mar de marolas eu entro mais. Às vezes eu me lembro do quanto o outro é lindo, fantástico de ficar olhando as ondas batendo contra as pedras, a gruta que a gente bate palmas e chove lá dentro. Mas não dá. Meu lugar é lá na sombra, no equilibrio, onde eu posso decidir se sujo ou não o pé de areia, se molho ou não o cabelo.