terça-feira, 27 de dezembro de 2011

das panelas queimadas

Eu tinha uns sete anos. Não, oito. Não, sete mesmo, e pedi pra minha irmã pra gente fazer (leia-se: ela fazer e eu ficar olhando e perguntando "tá pronto?" "e agora?") brigadeiro na panela. Achamos os ingredientes, a lata de  leite moça que minha mãe comprava pra fazer pudim no fim de semana, mas que nunca sobrevivia até ele, o nescau e etc. Na euforia de comer logo, pegamos qualquer panela. E foi nessa hora que entramos numa das maiores encrencas da história.

Pegamos a caneca que minha mãe usava pra fazer café, todos os dias. Eis que o brigadeiro queimou. Talvez minha irmã tenha se irritado com minhas perguntas de dois em dois segundos, distraiu da panela (ou melhor, caneca) pra brigar comigo e o brigadeiro queimou. Que desperdício. Mas a gente comeu assim mesmo. Evitamos as bordas e comemos direto da panela. Chegou no fundo da panela e no fim no brigadeiro, descobrimos que tava tudo grudado, preto e horrível. Lavamos (leia-se: minha irmã lavando, esfregando, suando e eu olhando e perguntando "saiu?" "e agora?"), lavamos, lavamos e nada. O desespero típico de crianças de oito (ou sete) anos tomou conta da gente. E agora, o que é que a gente vai falar pra mãe?

Veja bem, não éramos crianças obesas nem nada. Éramos muito magrinhas (bons tempos). Mas o problema seria ter acabado com o leite moça que minha mãe tinha comprado pra fazer o pudim. Já conhecíamos essa novela. E aí tomamos a atitude mais inteligente que duas crianças de sete (ou oito) anos poderiam tomar: decidimos esconder a panela (ou caneca). Feito isso, fomos dormir felizes e de barriguinhas cheias de brigadeiro com uma pitada de queimado. Tudo lindo, a vida é boa, afinal de contas.

E aí que minha mãe começou a dar falta da panela na manhã seguinte. E por todas as outras manhãs também. E ela não se conformava. Minha mãe tem uma ótima memória. Ela nunca deixa nada passar. Aprendemos isso nessa época. E todo dia ela falava da panela. Até que chegamos a mais temível conclusão: precisamos contar. Mas contar como? Ela vai matar a gente! Primeiro pelo pudim perdido, depois pela panela escondida, e depois por não termos dito nada até agora. Mas vamos contar. Contamos. Não lembro como. Ela riu. Riu muito e contou pra todo mundo e todo mundo riu. Ficamos envergonhadas, porque todo mundo tava rindo da nossa cara, mas melhor que encarar a fúria da minha mãe.

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Domingo passado, eu decidi que queria comer pipoca assistindo House enquanto meu marido dormia. Tinha dois saquinhos de pipoca para microondas em casa e aí eu lembrei que não tenho um microondas. Ganhei, veio quebrado, não abri a tempo de trocar na loja, assistência só depois do ano novo, enfim. Tive a brilhante idéia de fazer no forno elétrico. Uns 40 minutos depois descobri que o forno queima o papel da pipoca de microondas. Cheiro de queimado por toda parte.

Peguei o segundo saquinho e decidi que era só cortar o saquinho e fazer na panela. Genial. Descobri que pipocas de microondas são nojentas porque além do milho vem uma gosminha junto, que parece sei lá, maionese. Coloquei o milho e a gosminha na panela, um pouquinho só de óleo, porque já tava nojentinho demais, e liguei o fogo. Entrei em desespero quando vi que a panela não tinha tampa por perto. Peguei a tampa da Grill e tampei. Como era de vidro, fiquei encantada de ver os milhos virando pipoquinhas e pulando e fazendo barulhinho. Nessa de parecer uma idiota vendo a pipoca pular, deixei queimar. O fundo da panela ficou todo preto e muitas pipoquinhas também.

Lavei a panela, esfreguei, suei e nada. Eu não podia esconder a panela na minha própria casa, né? O marido jamais se daria conta de que tem uma panela faltando, mas né. Deixei dentro da pia, com água dentro.

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Uma parte de mim vai ter sempre sete (ou oito) anos.

sábado, 24 de dezembro de 2011

merry christimas what?

O que a gente deveria sentir na noite de Natal? Esperança? E o que a gente deve desejar aos outros? O que a gente deve dizer depois do "Feliz Natal"? Se eu desejar paz, saúde, prosperidade, o que eu vou dizer para essa mesma pessoa no ano novo? Desejar tudo de novo?

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Na festa de Natal na minha família, nesse ano, apareceu uma pessoa que eu não conhecia. Irmão de uma tia. Ele tem uma história de vida triste, eu já tinha ouvido falar. Mas nenhuma tragédia justifica (ou justifica, vai saber, cada um sabe o tamanho da dor que carrega) o tamanho, a intensidade da tristeza que ele exala. Na verdade não me parecia nem tristeza. Ele parecia simplesmente vazio. Ou desesperado. Como alguém que tivesse passado anos sozinho, e aquela fosse a sua primeira aparição em público, sua primeira tentativa de socializar de novo, depois de perder tanto.

A minha vontade era falar pra ele: moço, calma. Vai ficar tudo bem. Mas quem sou eu? Eu não sei se vai ficar tudo bem. Não sei se ele vai se achar, se ele vai conseguir ficar em paz, se é que é isso que ele quer.

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Nesse Natal eu não senti esperança. Talvez pelo homem, que foi pra mim uma amostra viva de tudo que está errado no mundo. Não quero ser levada a mal, foi uma noite de Natal feliz. Eu tenho tudo para ser feliz todos os dias. Tenho meus pais, que são pessoas incríveis. Minha irmã, que me tirou no amigo secreto (e eu também a tirei). Todos os avós, me desejando tudo de bom. Meu marido, que embora ateu, me deseja feliz natal a meia noite, porque respeita minha crença. Mas hoje, voltando pra casa, eu me peguei pensando: que crença?

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

2011

2011 foi um ano diferente. Foi um ano lindo, um ano difícil, um ano único.

Minha irmã viajou, passou dez meses longe, voltou. Eu senti muita saudade, chorei muito, deixei de trabalhar pra ficar vendo ela na webcam, me preocupei com ela, torci para que ela ficasse bem, para que ela não se sentisse sozinha. Fiquei feliz por ela ter conhecido pessoas especiais, pessoas que a ajudaram, que fizeram dela uma pessoa melhor, que cuidaram dela e foram cuidadas por ela. Fiquei feliz quando ela apareceu no aeroporto e eu vi no sorriso dela que tava tudo bem, que tudo valeu a pena, e ela me abraçou e eu tava com muita saudade daquele cheirinho de cigarro que nela é até cheiroso.

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Passei o ano de 2011 construindo uma casa, que finalmente ficou pronta. Eu achava que o sonho da casa própria era coisa de telesena, coisa que eu nunca precisaria me preocupar. Mas aí eu decidi casar e tivemos a sorte de ter onde construir, uma casa do jeitinho que a gente queria, com biblioteca, gramado, varandas, rede, árvore, cachorro destruindo tudo. Só agora eu entendo a importância de ter um cantinho pra descansar, pra ser eu, do jeito que eu quiser. Posso jantar miojo sem ser julgada, tomar banho às 3 da manhã, fazer maratona de seriados madrugada adentro. Posso ter a companhia do Luiz só pra mim, o tempo todo. Amor, tô com sede, vamos comigo buscar água? Vamos. A casa é enorme e a gente anda pra lá e pra cá juntos. A gente ouve um barulho e vai de cômodo em cômodo procurando, pra descobrir que na verdade foi o rodo do nosso banheiro que caiu. A gente acorda e vê o cachorro com cara de sem dono olhando lá pra dentro, eu fico com dó. Deixa o Pirata dormir aqui dentro, vai. E ele entra e fica raspando as unhas no meu piso laminado lindo de morrer e eu fico meio aflita mas tudo bem. Se estragar a gente conserta, pelo menos ele tá feliz. Tá escutando ele roncar? Ele tá dormindo bem. Que bom.

Eu ainda não cozinhei nada, o Luiz faz tudo. Chego e tá tudo brilhando, comidinha pronta, sobremesas preferidas na geladeira. Tem gente que tem marido, eu tenho muito mais.

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Em 2011 eu casei. Planejei uma festa linda e aconteceu tudo conforme o planejado. Meu pai me levou até o altar e eu nunca vou conseguir escrever sobre a emoção de usar um vestido de noiva, de olhar pra todo mundo que você gosta ali e dizer Sim vendo seu futuro nos olhos da pessoa que você ama, que você escolheu pra ser sua família. Meu pai me disse "Isso tudo é muito estranho, não sei ter filho adulto".
Acho estranho não morar mais "em casa". Sinto falta dos meus pais, da minha irmã, da minha cama de solteiro, mas só quando penso nisso. Amo morar com o Luiz, amo ter com ele a vida que a gente criou pra gente, amo desenvolver costumes novos com ele todos os dias.

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É isso, 2011. Você me trouxe tanta emoção, tanta alegria. Desesperei várias vezes ao longo desse ano, achei que nada daria certo, que eu não ia aguentar, que era simplesmente muita coisa para uma pessoa tão pequena. Desejei dormir e acordar só quando 2011 acabasse, mas olha, que bom que eu não dormi. Que bom que eu vivi cada dia desse ano, que eu aprendi um milhão de coisas sobre mim e sobre tudo.

2012, seja bonzinho. Traga pra mim a paz e a tranquilidade que 2011 roubou. Me deixa descansar, me deixa viver uma coisa só. Me deixa colocar minha conta bancária em ordem, me deixa dormir bem, por muitas horas, todas as noites. Me deixa entender que eu sou adulta, que eu respondo por mim, que eu sou responsável pelas minhas atitudes. Me deixa discernir, me deixa pensar. Me dê mais tempo pra amar, menos pra surtar. Me deixa pensar mais na solução e menos no problema. Me deixa ser (mais) feliz.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

wedding day

Quando eu vi no celular que era dia três de dezembro de dois mil e onze eu senti um frio na barriga imenso. E dormi. E o dia passou em câmera lenta, shopping, almoço, banho, salão. Comecei a ficar com siricutico quando tava no salão e tava quase na hora de ir pro sítio e ninguém tava pronto ainda. Sorri forçado pras fotos do making off, dei risadas de nervoso, respirei fundo, tomei água. Maquiagem pronta, cabelo pronto, véu na cabeça.
Cara de muitos amigos


Colocando o vestido com a ajuda de umas três madrinhas. Não fica certo, não fecha direito, tem uma dobrinha. Alguém descobre se o padre já chegou? Se todos os padrinhos estão em fila? Se o mundo não acabou enquanto o vestido parece não fechar? Tudo certo, só falta meu vestido ficar certo. Não fica, ninguém vai perceber, não vou chorar, tá tocando the verve lá embaixo, começou. Respira fundo. Cadê meu pai?




Ele me encontrou no meio da escada, me ajudou a descer, é salto, é cauda, buquê, tô parecendo um bolo. Filha você tá linda. Não vou chorar. Tá tocando minha música. É agora, vamos pai. Fomos. Vi dezenas de rostos, até achar o Luiz. Ele tava lá, de vermelho milan, segurando pra não sorrir. Ele é assim, né. Meu pai me deu um beijo no rosto, o Luiz me deu um beijo na mão e o Padre começou a falar. Eu não cai, não chorei, até aqui tá bom.



Alianças. Benção. Beijo. Cumprimentos (ao som de i'll be there for you), saída. Mil e uma fotos na mesa do bolo. Sede. Me traz uma cerveja enquanto eu tiro foto? Opa, ótimo. Mais fotos. Padrinhos, pais, avós, noivinhos. Subimos, uma mesa de jantar só pra nós dois. Comi meia pizza (que deselegante), tomei cerveja, suco, roubei brigadeiros da mesa de sobremesa. Ok, agora a festa.





Entramos. Retrospectiva. Ri, chorei, apertei a mão do Luiz. Valsa. Dancei com meu pai primeiro, what a wonderful world, ele adora essa música. Foi bem emocionante. Filha, você é a noiva mais linda que eu já vi. Tô apaixonado por você de noiva. Ele chorou, eu chorei. Te amo.
Valsa com o Luiz. Crazy começou a tocar e ele começou a rir: É essa a música que você escolheu??? Mas a gente vai dançar os sete minutos todos?? A gente nem sabe dançar!! Demos um jeito, dançamos, e parecia que só existia nós dois lá, na festa, no mundo. <3




Pai, não chora...

Feliz

Cumprimentei a festa inteira, tomei umas caipirinhas, e eu olhava pra festa e pensava: eu sonhei isso. Sonhei meses com isso e tá acontecendo. E tá lindo. Eu olhava pra minha mão esquerda o tempo todo, achando estranho a presença da aliança lá. E eu olhava pro Luiz de longe, fazendo farra na gravata, se divertindo, comemorando. Comemorando que agora somos uma família, eu e ele. Foi lindo. E não poderia ter sido melhor.

Meus pais <3

Jogando o buquê

Lindos!

Amor em família

É meu!