terça-feira, 27 de dezembro de 2011

das panelas queimadas

Eu tinha uns sete anos. Não, oito. Não, sete mesmo, e pedi pra minha irmã pra gente fazer (leia-se: ela fazer e eu ficar olhando e perguntando "tá pronto?" "e agora?") brigadeiro na panela. Achamos os ingredientes, a lata de  leite moça que minha mãe comprava pra fazer pudim no fim de semana, mas que nunca sobrevivia até ele, o nescau e etc. Na euforia de comer logo, pegamos qualquer panela. E foi nessa hora que entramos numa das maiores encrencas da história.

Pegamos a caneca que minha mãe usava pra fazer café, todos os dias. Eis que o brigadeiro queimou. Talvez minha irmã tenha se irritado com minhas perguntas de dois em dois segundos, distraiu da panela (ou melhor, caneca) pra brigar comigo e o brigadeiro queimou. Que desperdício. Mas a gente comeu assim mesmo. Evitamos as bordas e comemos direto da panela. Chegou no fundo da panela e no fim no brigadeiro, descobrimos que tava tudo grudado, preto e horrível. Lavamos (leia-se: minha irmã lavando, esfregando, suando e eu olhando e perguntando "saiu?" "e agora?"), lavamos, lavamos e nada. O desespero típico de crianças de oito (ou sete) anos tomou conta da gente. E agora, o que é que a gente vai falar pra mãe?

Veja bem, não éramos crianças obesas nem nada. Éramos muito magrinhas (bons tempos). Mas o problema seria ter acabado com o leite moça que minha mãe tinha comprado pra fazer o pudim. Já conhecíamos essa novela. E aí tomamos a atitude mais inteligente que duas crianças de sete (ou oito) anos poderiam tomar: decidimos esconder a panela (ou caneca). Feito isso, fomos dormir felizes e de barriguinhas cheias de brigadeiro com uma pitada de queimado. Tudo lindo, a vida é boa, afinal de contas.

E aí que minha mãe começou a dar falta da panela na manhã seguinte. E por todas as outras manhãs também. E ela não se conformava. Minha mãe tem uma ótima memória. Ela nunca deixa nada passar. Aprendemos isso nessa época. E todo dia ela falava da panela. Até que chegamos a mais temível conclusão: precisamos contar. Mas contar como? Ela vai matar a gente! Primeiro pelo pudim perdido, depois pela panela escondida, e depois por não termos dito nada até agora. Mas vamos contar. Contamos. Não lembro como. Ela riu. Riu muito e contou pra todo mundo e todo mundo riu. Ficamos envergonhadas, porque todo mundo tava rindo da nossa cara, mas melhor que encarar a fúria da minha mãe.

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Domingo passado, eu decidi que queria comer pipoca assistindo House enquanto meu marido dormia. Tinha dois saquinhos de pipoca para microondas em casa e aí eu lembrei que não tenho um microondas. Ganhei, veio quebrado, não abri a tempo de trocar na loja, assistência só depois do ano novo, enfim. Tive a brilhante idéia de fazer no forno elétrico. Uns 40 minutos depois descobri que o forno queima o papel da pipoca de microondas. Cheiro de queimado por toda parte.

Peguei o segundo saquinho e decidi que era só cortar o saquinho e fazer na panela. Genial. Descobri que pipocas de microondas são nojentas porque além do milho vem uma gosminha junto, que parece sei lá, maionese. Coloquei o milho e a gosminha na panela, um pouquinho só de óleo, porque já tava nojentinho demais, e liguei o fogo. Entrei em desespero quando vi que a panela não tinha tampa por perto. Peguei a tampa da Grill e tampei. Como era de vidro, fiquei encantada de ver os milhos virando pipoquinhas e pulando e fazendo barulhinho. Nessa de parecer uma idiota vendo a pipoca pular, deixei queimar. O fundo da panela ficou todo preto e muitas pipoquinhas também.

Lavei a panela, esfreguei, suei e nada. Eu não podia esconder a panela na minha própria casa, né? O marido jamais se daria conta de que tem uma panela faltando, mas né. Deixei dentro da pia, com água dentro.

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Uma parte de mim vai ter sempre sete (ou oito) anos.

sábado, 24 de dezembro de 2011

merry christimas what?

O que a gente deveria sentir na noite de Natal? Esperança? E o que a gente deve desejar aos outros? O que a gente deve dizer depois do "Feliz Natal"? Se eu desejar paz, saúde, prosperidade, o que eu vou dizer para essa mesma pessoa no ano novo? Desejar tudo de novo?

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Na festa de Natal na minha família, nesse ano, apareceu uma pessoa que eu não conhecia. Irmão de uma tia. Ele tem uma história de vida triste, eu já tinha ouvido falar. Mas nenhuma tragédia justifica (ou justifica, vai saber, cada um sabe o tamanho da dor que carrega) o tamanho, a intensidade da tristeza que ele exala. Na verdade não me parecia nem tristeza. Ele parecia simplesmente vazio. Ou desesperado. Como alguém que tivesse passado anos sozinho, e aquela fosse a sua primeira aparição em público, sua primeira tentativa de socializar de novo, depois de perder tanto.

A minha vontade era falar pra ele: moço, calma. Vai ficar tudo bem. Mas quem sou eu? Eu não sei se vai ficar tudo bem. Não sei se ele vai se achar, se ele vai conseguir ficar em paz, se é que é isso que ele quer.

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Nesse Natal eu não senti esperança. Talvez pelo homem, que foi pra mim uma amostra viva de tudo que está errado no mundo. Não quero ser levada a mal, foi uma noite de Natal feliz. Eu tenho tudo para ser feliz todos os dias. Tenho meus pais, que são pessoas incríveis. Minha irmã, que me tirou no amigo secreto (e eu também a tirei). Todos os avós, me desejando tudo de bom. Meu marido, que embora ateu, me deseja feliz natal a meia noite, porque respeita minha crença. Mas hoje, voltando pra casa, eu me peguei pensando: que crença?

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

2011

2011 foi um ano diferente. Foi um ano lindo, um ano difícil, um ano único.

Minha irmã viajou, passou dez meses longe, voltou. Eu senti muita saudade, chorei muito, deixei de trabalhar pra ficar vendo ela na webcam, me preocupei com ela, torci para que ela ficasse bem, para que ela não se sentisse sozinha. Fiquei feliz por ela ter conhecido pessoas especiais, pessoas que a ajudaram, que fizeram dela uma pessoa melhor, que cuidaram dela e foram cuidadas por ela. Fiquei feliz quando ela apareceu no aeroporto e eu vi no sorriso dela que tava tudo bem, que tudo valeu a pena, e ela me abraçou e eu tava com muita saudade daquele cheirinho de cigarro que nela é até cheiroso.

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Passei o ano de 2011 construindo uma casa, que finalmente ficou pronta. Eu achava que o sonho da casa própria era coisa de telesena, coisa que eu nunca precisaria me preocupar. Mas aí eu decidi casar e tivemos a sorte de ter onde construir, uma casa do jeitinho que a gente queria, com biblioteca, gramado, varandas, rede, árvore, cachorro destruindo tudo. Só agora eu entendo a importância de ter um cantinho pra descansar, pra ser eu, do jeito que eu quiser. Posso jantar miojo sem ser julgada, tomar banho às 3 da manhã, fazer maratona de seriados madrugada adentro. Posso ter a companhia do Luiz só pra mim, o tempo todo. Amor, tô com sede, vamos comigo buscar água? Vamos. A casa é enorme e a gente anda pra lá e pra cá juntos. A gente ouve um barulho e vai de cômodo em cômodo procurando, pra descobrir que na verdade foi o rodo do nosso banheiro que caiu. A gente acorda e vê o cachorro com cara de sem dono olhando lá pra dentro, eu fico com dó. Deixa o Pirata dormir aqui dentro, vai. E ele entra e fica raspando as unhas no meu piso laminado lindo de morrer e eu fico meio aflita mas tudo bem. Se estragar a gente conserta, pelo menos ele tá feliz. Tá escutando ele roncar? Ele tá dormindo bem. Que bom.

Eu ainda não cozinhei nada, o Luiz faz tudo. Chego e tá tudo brilhando, comidinha pronta, sobremesas preferidas na geladeira. Tem gente que tem marido, eu tenho muito mais.

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Em 2011 eu casei. Planejei uma festa linda e aconteceu tudo conforme o planejado. Meu pai me levou até o altar e eu nunca vou conseguir escrever sobre a emoção de usar um vestido de noiva, de olhar pra todo mundo que você gosta ali e dizer Sim vendo seu futuro nos olhos da pessoa que você ama, que você escolheu pra ser sua família. Meu pai me disse "Isso tudo é muito estranho, não sei ter filho adulto".
Acho estranho não morar mais "em casa". Sinto falta dos meus pais, da minha irmã, da minha cama de solteiro, mas só quando penso nisso. Amo morar com o Luiz, amo ter com ele a vida que a gente criou pra gente, amo desenvolver costumes novos com ele todos os dias.

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É isso, 2011. Você me trouxe tanta emoção, tanta alegria. Desesperei várias vezes ao longo desse ano, achei que nada daria certo, que eu não ia aguentar, que era simplesmente muita coisa para uma pessoa tão pequena. Desejei dormir e acordar só quando 2011 acabasse, mas olha, que bom que eu não dormi. Que bom que eu vivi cada dia desse ano, que eu aprendi um milhão de coisas sobre mim e sobre tudo.

2012, seja bonzinho. Traga pra mim a paz e a tranquilidade que 2011 roubou. Me deixa descansar, me deixa viver uma coisa só. Me deixa colocar minha conta bancária em ordem, me deixa dormir bem, por muitas horas, todas as noites. Me deixa entender que eu sou adulta, que eu respondo por mim, que eu sou responsável pelas minhas atitudes. Me deixa discernir, me deixa pensar. Me dê mais tempo pra amar, menos pra surtar. Me deixa pensar mais na solução e menos no problema. Me deixa ser (mais) feliz.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

wedding day

Quando eu vi no celular que era dia três de dezembro de dois mil e onze eu senti um frio na barriga imenso. E dormi. E o dia passou em câmera lenta, shopping, almoço, banho, salão. Comecei a ficar com siricutico quando tava no salão e tava quase na hora de ir pro sítio e ninguém tava pronto ainda. Sorri forçado pras fotos do making off, dei risadas de nervoso, respirei fundo, tomei água. Maquiagem pronta, cabelo pronto, véu na cabeça.
Cara de muitos amigos


Colocando o vestido com a ajuda de umas três madrinhas. Não fica certo, não fecha direito, tem uma dobrinha. Alguém descobre se o padre já chegou? Se todos os padrinhos estão em fila? Se o mundo não acabou enquanto o vestido parece não fechar? Tudo certo, só falta meu vestido ficar certo. Não fica, ninguém vai perceber, não vou chorar, tá tocando the verve lá embaixo, começou. Respira fundo. Cadê meu pai?




Ele me encontrou no meio da escada, me ajudou a descer, é salto, é cauda, buquê, tô parecendo um bolo. Filha você tá linda. Não vou chorar. Tá tocando minha música. É agora, vamos pai. Fomos. Vi dezenas de rostos, até achar o Luiz. Ele tava lá, de vermelho milan, segurando pra não sorrir. Ele é assim, né. Meu pai me deu um beijo no rosto, o Luiz me deu um beijo na mão e o Padre começou a falar. Eu não cai, não chorei, até aqui tá bom.



Alianças. Benção. Beijo. Cumprimentos (ao som de i'll be there for you), saída. Mil e uma fotos na mesa do bolo. Sede. Me traz uma cerveja enquanto eu tiro foto? Opa, ótimo. Mais fotos. Padrinhos, pais, avós, noivinhos. Subimos, uma mesa de jantar só pra nós dois. Comi meia pizza (que deselegante), tomei cerveja, suco, roubei brigadeiros da mesa de sobremesa. Ok, agora a festa.





Entramos. Retrospectiva. Ri, chorei, apertei a mão do Luiz. Valsa. Dancei com meu pai primeiro, what a wonderful world, ele adora essa música. Foi bem emocionante. Filha, você é a noiva mais linda que eu já vi. Tô apaixonado por você de noiva. Ele chorou, eu chorei. Te amo.
Valsa com o Luiz. Crazy começou a tocar e ele começou a rir: É essa a música que você escolheu??? Mas a gente vai dançar os sete minutos todos?? A gente nem sabe dançar!! Demos um jeito, dançamos, e parecia que só existia nós dois lá, na festa, no mundo. <3




Pai, não chora...

Feliz

Cumprimentei a festa inteira, tomei umas caipirinhas, e eu olhava pra festa e pensava: eu sonhei isso. Sonhei meses com isso e tá acontecendo. E tá lindo. Eu olhava pra minha mão esquerda o tempo todo, achando estranho a presença da aliança lá. E eu olhava pro Luiz de longe, fazendo farra na gravata, se divertindo, comemorando. Comemorando que agora somos uma família, eu e ele. Foi lindo. E não poderia ter sido melhor.

Meus pais <3

Jogando o buquê

Lindos!

Amor em família

É meu!


segunda-feira, 14 de novembro de 2011

Parar no posto para abastecer e aceitar que o frentista lave o vidro do carro. Uma faixa de sabão, outra faixa de sabão, última faixa de sabão. O vidro que tava sujo agora é só sabão. Ele joga água e o sabão vai embora, e as gotinhas ficam apostando corrida pra ver quem chega no final primeiro. E aí vem a melhor parte. Com o rodinho, ele tira toda a bagunça. Expulsa a água pras laterais, e elas morrem evaporadas porque o carro tá quente. Uma faixa do rodinho, duas, três, acabou. Tá limpo, tá seco. Agora é só sujar de novo.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

Sábado passado, voltando pra casa de comprinhas na beleza da 25, parei no farol. Um homem estava pedindo dinheiro para os carros, e ninguém deu. Ele não tinha os dois braços, usava uma camisa com bolso para quem quisesse colocar as moedinhas. Chegou perto da minha janela, pediu dinheiro, eu disse que não tinha. Eu tinha uma garrafa de água na mão, já na metade, ele olhou e disse: "Você pode me dar um pouco de água? O sol tá tão quente...". Como ele não tinha os braços, eu dei água na boca dele. O farol abriu e eu chorei.

Tanta gente que passa necessidade. Eu passo sede porque tenho preguiça de levantar e dar oito passos até o bebedouro. Eu ando com meu allstar encardido e velho mesmo tendo vários pares de sapatos novos e bonitinhos no armário. Eu acordo de noite com frio e pego mais uma coberta no armário. Eu reclamo de andar no carro de trabalho dos meus pais porque o carro de passeio é mais confortável.

Tanta gente que não tem nada. E eu tenho tudo.

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

que bom que você existe.

Falar de quem a gente ama é difícil. Falar de quem a gente ama há tempos, é um pouco mais.

No começo do namoro era fácil. Frio na barriga, expectativa, descobrindo coisa nova um do outro todo dia. Depois de alguns anos, a gente sabe basicamente tudo um do outro. A quantidade que a pessoa come, o jeito que ela dorme, quanto tempo ela demora no banho, o quanto ela sabe ser chata quando quer. Amar alguém no começo, quando você só conhece o que a pessoa tem de bom, é fácil. Continuar amando enquanto você começa a reparar nas imperfeições que é difícil. Elas sempre estiveram lá, mas o amor é uma coisa tão linda que espera ficar forte o suficiente pra permitir que você veja e saiba aceitar.

Mas a gente acaba que se perde na rotina. Não tem jeito, é inevitável. A gente mergulha nesse dia a dia maluco e às vezes acha que vai se afogar no meio de tanto problema. É o pedreiro que faltou, o cheque que voltou, a conta que tá negativa, o trânsito que tá pesado, o chefe enchendo o saco. E um dia, você vê a pessoa de longe, conversando com alguém e pensa, cheia de orgulho, que aquela pessoa ali, faz parte de você. E melhor ainda, que você faz parte dela também. Que em cada palavra que ele fala, cada pensamento, existe um pedacinho de você. E que essa pessoa está do seu lado. Literal e metaforicamente. A pessoa está ali, para evitar que você se afogue ou para se afogar junto com você, não importa.


Que bom que você existe.
Feliz aniversário. <3

quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Falso Brilhante (Carpinejar)

Há o condicionamento de que amor mesmo, de verdade, é gastar metade do salário para a esquadrilha da fumaça assinar o nome da namorada pelos céus de Porto Alegre.

Temos uma noção de que amor mesmo, de verdade, é exibicionista. Depende de surpresas públicas de afeto como serenata na janela, carro de som, anúncios na TV, outdoors com pedido de casamento.

Mulheres e homens se desesperam por um amor público, encantado, de estádio cheio, e cobram provas mirabolantes de seus parceiros. Reclamam da rotina, da previsibilidade, e exigem declarações barulhentas para despertar a inveja do próximo.

O amor espalhafatoso recebe a fama, mas o amor contido é o mais profundo.

Ao procurar o amor empresarial, desprezamos o amor funcionário público, que atende às ligações e escreve nossos memorandos.

Ao perseguir o amor de cinema, desdenhamos o amor de teatro, de quem encena a peça todo dia ao nosso lado, sempre com uma interpretação nova a partir das falas iguais.

Ao cobiçar o amor sensual de lareira e restaurante, apagamos a delícia de comer direto nas panelas, sem pratos, sem medo do garçom.

Ao perseguir a aventura, negamos a permanência.

Preocupados em ser reconhecidos mais do que amar, esquecemos a verdade pessoal e despojada do nosso relacionamento. Recusamos o amor constante, o amor cúmplice.

Não valorizamos a passionalidade silenciosa, a passionalidade humilde, a passionalidade generosa, a passionalidade tímida, a passionalidade artesanal.

O passional pode ser discreto na aparência e prático na ternura.

O amor mais contundente é o que não precisa ser visto para existir. E continuará sendo feito apesar de não ser reparado.

O amor real é secreto. É conservar um pouco de amor platônico dentro do amor correspondido. É reservar as gavetas do armário mais acessíveis para as roupas dela, é deixar que sua mulher tome a última fatia da pizza que você mais gosta, é separar as roupas de noite para não acordá-la de manhã. E nunca falar que isso aconteceu. E não jogar na cara qualquer ação. E não se vangloriar das próprias delicadezas.

Buscá-la no trabalho é o equivalente a oferecer um par de brilhantes. Esperá-la com comida pronta é o equivalente a acolhê-la com um buquê de rosas vermelhas.

São demonstrações sutis, que não dá para contar para os outros, mas que contam muito na hora de acordar para enfrentar a vida.

terça-feira, 4 de outubro de 2011

Quote - Monica and Chandler

Monica: All right, what’s going on?
Chandler: Phoebe thinks you and Don are soul mates, and I don’t believe in that kind of stuff. But then you two totally get along. So look, I won’t stand in your way if you want to run off with Don and live in a house of cheese.
Monica: Chandler, you don’t believe in soul mates?
Chandler: No. But I’m sure (mimics Don) ‘tomatoes’ does.
Monica: I don’t believe in soul mates either.
Chandler: You don’t?
Monica: No. I don’t think that you and I were destined to end up together. I think that we fell in love and work hard at our relationship. Some days we work really hard.
Chandler: So you…you don’t want to live with Don in a cheese house?
Monica: No, I’ve had second thoughts about that. Do you realize how hard that would be to clean?
Chandler: I love you.
Monica: I know.

domingo, 2 de outubro de 2011

dos mares e dos medos

Aqui tem sombra, eu fico sentada tomando meu açaí numa cadeira de plástico, que não desequilibra porque tô no cimento, e não na areia. Se eu quiser, eu dou alguns passos e chego até o mar, que é muito calmo, parece uma piscina. Não tem ondas, apenas algumas marolas. Marola é uma palavra tão engraçada. A areia não é muito fofa, então meu pé não afunda, apesar do meu peso. A água não é muito gelada, mergulhar nesse mar é simples, é fácil, é tão seguro. Não corro o perigo de uma onda vir enquanto eu estou distraída e bater contra minha cabeça. Esse mar não é fundo. Eu ando, ando, ando e ele continua na altura do meu umbigo. Na beiradinha as crianças brincam na areia, achando graça das ondinhas que se aproximam fazendo cócegas. Entrando nesse mar, eu não preciso nem molhar o meu cabelo, se eu não quiser. Ele fica com um aspecto péssimo depois de um banho de mar. Posso deixá-lo preso no alto da cabeça, e ele vai continuar seco. Quando eu cansar da água, eu volto para minha mesa de plástico, me seco com uma toalha fofinha longe da areia, porque não existe coisa pior que toalha com areia, e termino meu açaí. Consigo voltar pro carro com os pés limpinhos, sem um grão de areia para sujar o tapete.

A poucos metros desse mar, existe um outro, completamente diferente. Pra mim mar era tudo igual. Areia, água salgada, horizonte sem fim. Se eu quiser ir até esse outro, eu posso. Nada me impede, é só querer, levantar da cadeira de plástico, largar o açaí pela metade e ir. Para chegar lá, preciso passar um caminho de pedras, que machuca muito meus pés porque eu nunca levo chinelo, já que lá não tem nenhuma mesa de plástico pra eu deixá-lo debaixo. Lá a areia é muito fofa, muito quente, não tem sombra. A cada passo meu pé afunda mais, e quanto mais rápido eu ando para diminuir o tempo que meu pé fica em contato com a areia muito quente, eu afundo mais. Mas continuo correndo, porque sei que quando chegar até a água, que é bem gelada, vou conseguir refrescá-los. Para ir até esse mar, eu tenho que ir desprotegida. Sem a saída de banho, sem os chinelos, sem os óculos. Esse mar é violento. As ondas são gigantes e quebram com uma força muito grande, espirrando água para todos os lados. O meu cabelo não sai seco de lá, é impossível. Para entrar nesse mar, você precisa fechar os olhos, correr e mergulhar. Ninguém pode te dizer o que você vai encontrar depois. Depois do mergulho, não dá mais pé. Você não alcança o chão. Você precisa ter muita força e muito fôlego para se manter alí, razoavelmente tranquila. Quando você menos espera, uma onda te pega de surpresa, quebrando com força na sua orelha, e você não vê mais nada. Você ouve o barulho dela quebrando, do lado debaixo. Você não tem coragem de abrir o olho, mas não adianta muito, porque é tudo escuro. Você não sabe mais onde é sul e onde é norte, não sabe mais pra onde fica a superfície.

Antes de entrar nesse mar, a minha mãe me disse: "Filha, não entra". Eu entrei. Achei que estava perdendo os sentidos, estava cansada de bater os braços e as pernas e desisti. Lembrei do que minha mãe me disse e me odiei um pouquinho, mas nada mais importava. Parei de me debater e relaxei. Os braços e as pernas, a cabeça. Na hora eu não entendi o que aconteceu, mas depois descobri que uma onda quebrou forte onde eu estava e me levou para a areia. Senti a areia grossa e quente arranhando meu corpo todo, e percebi que eu conseguia respirar. Respirei e chorei.

Nunca mais cheguei perto daquele mar. Agora não saio mais da minha sombra, não levanto da minha cadeira de plástico e deixo meu açaí. Nem no mar de marolas eu entro mais. Às vezes eu me lembro do quanto o outro é lindo, fantástico de ficar olhando as ondas batendo contra as pedras, a gruta que a gente bate palmas e chove lá dentro. Mas não dá. Meu lugar é lá na sombra, no equilibrio, onde eu posso decidir se sujo ou não o pé de areia, se molho ou não o cabelo.

domingo, 18 de setembro de 2011

Sete. Soneca. Sete e dez. Abre o olho, Aline. Sete e quinze. Sete e vinte. Agora é sério. Sete e meia. Abriu. Blur. Amor no nextel. Xixi. Piso gelado. Careta. Lentes de contato. Banho. Secador. Internet. Remédios. Nescau com leite gelado. Bisnaguinha. Ônibus. Livro. Amor no nextel. Faculdade. Tédio. Tédio. Tédio. Ônibus. Metrô. Amor no nextel. Comidinha. Trabalho. E-mails. Telefone. Internet. Amor no nextel. Comidinhas. E-mails. Trabalho. Telefone. Internet. Amor no nextel. Metrô. Trem. Amor esperando no carro. Risada. Beijo. Abraço. Amor. Casa. Pai. Mãe. Internet. Comidinha. Internet. Seriado. Amor no nextel. Remédios. Lentes de contato. Blur. Cama. Amor no nextel. Fim.

sábado, 17 de setembro de 2011

ex-dumbo

Nunca gostei das minhas orelhas. E também não era como se eu tivesse cabelos lisos e compridos e sedosos e brilhantes para escondê-las. Pelo menos não até eu descobrir a escova progressiva e gastar um bom dinheiro com isso. Gastar o dinheiro dos meus pais, que fique bem claro. Porque quando você decide casar, você tem que se conformar que não terá dinheiro para esses detalhes por um bom tempo.

Aí, sei lá como, decidi operar as orelhas. Todo mundo disse: "Imagina, suas orelhas não têm nada de diferente" e a médica disse: "Podemos melhorar MUITO isso daí". Perdi as guias dos exames, decidi não operar mais, mudei de idéia, busquei novos exames, fiz, tudo OK, cirurgia marcada. 14 de setembro.

Internei, coloquei aquele avental que te deixa com a bunda de fora e aquela touquinha transparente, deitei na maca e perdi a dignidadade, porque né. Perguntei se eu não podia ir andando, de moletom e tal, porque afinal de contas, era só a orelha, mas não. Ok. Quiseram me dar anestesia geral. O combinado tinha sido local, aí falei pra médica: "Olha, minha mãe não vai deixar não". Lá foi ela achar minha mãe pra pedir o consentimento. Descobri que anestesia geral faz você sentir como se tivesse dormido uma semana inteira. Super descansei. Adorei.

Acordei da anestesia quase três horas depois e consegui fazer duas perguntas pro enfermeiro mais próximo: "Quando é que eu vou poder comer?" e "Me leva pra minha mãe?". Ele nem me deu atenção e eu cochilei mais umas dez vezes. O enfermeiro que me levou pro quarto perguntou se eu tava com dor, eu disse que não, e ele disse que quando ele mesmo passou por essa cirurgia, quase morreu de dor. Nem fiquei apavorada, imagina. Até mesmo porque eu só pensava em comer.

Depois de comer várias torradas e tomar dois toddynhos, dormi mais um monte. Não senti dor nenhuma. E hoje, quatro dias depois, estou surpresa com a ausência de dor. É ruim pra dormir, porque eu só sei dormir de lado e não pode, as orelhas ardem um pouco e ficam quentes por ficar debaixo da faixa o tempo todo. Elas estão roxas e inchadas, mas estão lindinhas. :)

Sem contar que tá todo mundo me mimando e fazendo tudo pra mim. Eu só preciso ver se páro de comer, porque não vai adiantar muito deixar de ter orelhinhas de dumbo e continuar parecendo uma elefantinha.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Lucy is getting married

"Eu tinha vergonha de me sentir assim. As pessoas achavam que não existia essa história de depressão, e tudo era apenas um conceito vago e neurótico. A versão atualizada da pessoa que "sofre dos nervos", que todo mundo considerava como "uma pessoa que sente pena de si mesma, sem motivos". Ou achavam que eu estava simplesmente de frescura, entregando-me a alguma ansiedade adolescente que já passara totalmente da data de validade. E que tudo o que eu tinha que fazer era simplesmente "me controlar", "sair fora dessa" e "levar a vida na esportiva".

Eu conseguia entender essa atitude, porque todo mundo fica deprimido de vez em quando. Faz parte da vida, faz parte do pacote, dias ensolarados e outros com dor de ouvido. (...) Coisas desagradáveis aconteciam com as pessoas: relacionamentos eram rompidos, empregos eram perdidos, os aparelhos de televisão enguiçavam dois dias depois de acabar a garantia e assim por diante. E as pessoas se sentiam péssimas a respeito dessas coisas."


- Marian Keyes

terça-feira, 6 de setembro de 2011

Tudo bem.

Nunca achei que "proposing" faz muito sentido. Casamento não é uma coisa que um pede e o outro aceita. Casamento é decisão. É decidir se você quer um amor, um amigo, um amante, um roomate, tudo em uma pessoa só. É dividr o bolso, o abraço, a conta no banco. É ter alguém que entende como você se sente, alguém que te estenda a mão sem pedir nada em troca.

É viver com alguém que te liga quando vê uma coisa engraçada e quer rir junto com você. É compartilhar. Compartilhar a ansiedade, o nervosismo, as novidades, as mudanças, as tristezas, as angustias. É decidir se você quer ver o reflexo daquele rosto envelhecendo no espelho do banheiro enquanto dividem a pia para escovar os dentes. É querer cuidar, proteger, tomar as dores, poupar.

É permitir. É permitir que o outro te conheça como só você se conhece. É acordar descabelada, com o travesseiro babado e o outro achar bonitinho, que bom que você dormiu bem. É o outro precisar de um remédio e você ir até a cozinha buscar água sem preguiça, mesmo sabendo que se fosse para si mesmo não iria.

É compreender, entender, relevar. Relevar a resposta atravessada, o estresse, o cansaço, o desânimo. É respeitar que cada um é um e os dois não são um só. Entender que a vontade de um pode não ser a do outro, e tudo bem. Tudo bem se eu quiser ler e você jogar video game, se eu quiser assistir Friends e você futebol, se você quiser comer macarrão e eu pizza, se você quiser ouvir Metallica e eu The Killers. Tudo bem se você torce para a Itália e eu pro Brasil, se você gosta dos cachorros dentro de casa e eu prefira eles lá fora, se você passa o dia no mar e eu na sombra, se você quer o piso verde e eu quero o azul.

Tudo bem porque você me ama e eu te amo também. E eu não sei quando, mas tenho certeza que foi bem antes de colocarmos a aliança dourada, nós decidimos que casar era a única solução pra tanto amor.

"Eles não se entendiam, raramente concordavam em algo. Brigavam sempre. E se desafiavam todos os dias. Mas, apesar das diferenças, tinham algo importante em comum: eram loucos um pelo outro."

(Diário de uma paixão)

domingo, 31 de julho de 2011

Lembra?

De quando a gente dividia a pia pra escovar os dentes, de quando a mãe não deixava a gente atravessar a avenida, quando a gente ficava de castigo e não podia ver tv, quando a gente dividia o mesmo quarto e rezávamos juntas antes de dormir, quando a gente ia na padaria e o cigarro custava só R$1,85, de quando a gente ia viajar sem o pai e a mãe e você dormia na cama comigo porque eu chorava, de quando a gente brigava e se arranhava, de quando a gente descia a escada com o colchão, de quando você raspou um pedacinho da minha cabeça com a panasonic, de quando eu fui passar um short seu e queimei, de quando queimamos o brigadeiro e escondemos a panela pra mãe não brigar, e de quando ela achou a panela e não brigou, de quando a gente ouvia o carro da mãe virando a esquina e arrumava a bagunça em cinco segundos, de quando era o meu dia de tomar banho primeiro e eu nunca levantava, de quando a gente ficava assistindo sessão da tarde no sofá, de quando você terminou a escola e eu tive que ficar mais um ano indo pra lá sozinha, de quando eu achava que os seus amigos eram meus também, de quando você começou a faculdade e nossos horários não batiam e a gente nunca se via, de quando você fazia estágio e me deixava no metrô e eu ia dormindo, de quando você decidiu passar esse ano na Irlanda. Lembra?

domingo, 17 de julho de 2011

The end of an era

Lembro da primeira vez que ouvi falar em Harry Potter. Estava no Extra, "ajudando" minha mãe a fazer compras e vi o livro "Harry Potter e a Câmara Secreta". Li a capa, gostei, mãe compra pra mim? Não, hoje não. Ok.

Aí apareceu o primeiro filme. Fui ao cinema e saí de lá cantando "Grifinória, grifinória!!!". Dos livros, lembro apenas a partir do quarto. Peguei emprestado, devorei em três dias, e percebi que a coisa estava ficando mais séria. No quinto livro enchi o saco da minha mãe até ela não aguentar mais, compramos no dia que saiu nas livrarias. A Nobel cobrou o livro duas vezes, mas o que é que tem, vale a pena. Li em três dias e chorei, senti a perda do Sirius.

No sexto livro não aguentei esperar e li pela internet. Li a morte de Dumbledore quando a família toda tava no carro só me esperando pra irmos viajar. Chorei muito mais.

E ontem, o último filme. 10 anos acompanhando uma história que começou bobinha, para crianças, e terminou extraordinária. Não encontrei nenhuma falha na história até hoje. Fico triste por ter acabado, por saber que ao fim do filme ontem não teria mais nada inédito pra ver. Mas me sinto feliz por ter tido a companhia deles nesses 10 anos. No ônibus, no metrô, na cama antes de dormir.

Agora é só guardar o box com todos os filmes e livros e esperar pra mostrar tudo pra filha que eu vou ter um dia.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

my valentine

Eu te amo quando você acorda as 4 da manhã porque não consegue mais respirar e me pergunta por que é que o galo canta de olho fechado. Te amo quando você fala pra pessoa do caixa do supermercado que eu torro todo o seu dinheiro. Te amo quando você fala pro vendedor do duty free que todas as bebidas que a gente compra é pra sustentar meu vício. Te amo quando vejo você falando em uma língua estrangeira com os gringos tão perfeitamente. Te amo quando você me explica as coisas que eu não entendo, e explica de novo porque eu continuo sem entender. Te amo quando você bagunça meu cabelo, me olha de cara feia, fica sem paciência. Te amo quando você se preocupa com coisas desnecessárias. Te amo quando você faz pouco caso das minhas preocupações com provas. Te amo quando você finge que não tá nem aí pra festa do casamento. Te amo quando você fala que o Pirata é a pessoa mais importante da sua vida. Te amo quando você tá mal humorado e quando você não quer muita conversa. Te amo quando você dorme. Te amo quando você tá com dor e tenho vontade de pegar ela pra mim, pra te poupar.

A gente esqueceu que ontem era dia dos namorados, mas isso é tão pouco perto do que a gente realmente é...

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Amar é Punk - Fernanda Mello

Eu já passei da idade de ter um tipo físico de homem ideal para eu me relacionar. Antes, só se fosse estranho (bem estranho). Tivesse um figurino perturbado. Gostasse de rock mais que tudo. Tivesse no mínimo um piercing (e uma tatuagem gigante). Soubesse tocar algum instrumento. E usasse All Star.

Uma coisa meio Dave Grohl.

Hoje em dia eu continuo insistindo no quesito All Star e rock´n roll, mas confesso que muita coisa mudou. É, pessoal, não tem jeito. Relacionamento a gente constrói. Dia após dia. Dosando paciência, silêncios e longas conversas. Engraçado que quando a gente pára de acreditar em “amor da vida”, um amor pra vida da gente aparece. Sem o glamour da alma gêmea. Sem as promessas de ser pra sempre. Sem borboletas no estômago. Sem noites de insônia. É uma coisa simples do tipo: você conhece o cara. Começa, aos poucos, a admirá-lo. A achá-lo FODA. E, quando vê, você tá fazendo coraçãozinho com a mão igual uma pangaré. (E escrevendo textos no blog para que ele entenda uma coisa: dessa vez, meu caro, é DIFERENTE).

Adeus expectativas irreais, adeus sonhos de adolescente. Ele vai esquecer todo mês o aniversário de namoro, mas vai se lembrar sempre que você gosta do seu pão-de-sal bem branco (e com muito queijo). Ele não vai fazer declarações românticas e jantares à luz de vela, mas vai saber que você está de TPM no primeiro “Oi”, te perdoando docemente de qualquer frase dita com mais rispidez.

Ah, gente, sei lá. Descobri que gosto mesmo é do tal amor. DA PAIXÃO, NÃO. Depois de anos escrevendo sobre querer alguém que me tire o chão, que me roube o ar, venho humildemente me retificar. EU QUERO ALGUÉM QUE DIVIDA O CHÃO COMIGO. QUERO ALGUÉM QUE ME TRAGA FÔLEGO. Entenderam? Quero dormir abraçada sem susto. Quero acordar e ver que (aconteça o que acontecer), tudo vai estar em seu lugar. Sem ansiedades. Sem montanhas-russas.

Antes eu achava que, se não tivesse paixão, eu iria parar de escrever, minha inspiração iria acabar e meus futuros livros iriam pra seção B da auto-ajuda, com um monte de margaridinhas na capa. Mas, CARAMBA! Descobri que não é nada disso. Não existe nada mais contestador do que amar uma pessoa só. Amar é ser rebelde. É atravessar o escuro. É, no meu caso, mudar o conceito de tudo o que já pensei que pudesse ser amor. Não, antes era paixão. Antes era imaturidade. Antes era uma procura por mim mesma que não tinha acontecido.

Sei que já falei muito sobre amor, acho que é o grande tema da vida da gente. Mas amor não é só poesia e refrões. Amor é RECONSTRUÇÃO. É ritmo. Pausas. Desafinos. E desafios.
Demorei anos pra concordar com meu querido (e sempre citado) Cazuza: “eu quero um amor tranqüilo, com sabor de fruta mordida”.
Antes, ao ouvir essa música, eu sempre pensava (e não dizia): porra, que tédio!

Ah, Cazuza!
Ele sempre soube. Paixão é para os fracos. Mas amar - ah, o amor! - AMAR É PUNK.


- Fernanda Mello

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Três vezes amor

I wanna marry you because you’re the first person I wanna look at when I wake up in the morning, and the only one I wanna kiss goodnight. Because the first time that I saw these hands, I couldn’t imagine not being able to hold them. But mainly, when you love someone as much as I love you, getting married is the only thing left to do.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Eu tô dormindo com o seu edredon.
Não gosto muito porque ele é fininho, e o seu cheiro que estava nele já acabou, mas me sinto mais perto de você, de alguma forma.

Saudade, né.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

sister, i miss you



Entwined, you and I
Our souls speak from across the miles
Intertwined, you and I
Our blood flows from the same inside
Half of me, breathes in you
Thoughts of love remain true



Não somos gêmeas por pouco, mas quando éramos pequenas minha mãe nos vestia com roupas iguais. Até 11 anos dividimos o mesmo quarto, e eu fazia uma linha dividindo a minha parte da dela, porque ela era muito bagunceira. Acordávamos cedo e assistíamos o desenho do dinossauro que eu não sei o nome, mas deve ser Dino (dã). No banco de trás do carro, disputávamos o meio, para ficar com a cabeça no meio dos nossos pais.

Quando ela foi para a primeira série, e eu fazia todas as lições de casa dela estando no pré, não gostei muito da mudança, dela ter um uniforme diferente do meu, amigos que eu não conhecia, material escolar mais bonito, uma mochila de carrinho de gente grande verde e a minha de criança, rosa, da minnie.

Ela segurava minha mão quando nossos pais brigavam e falava pra eu não ligar, que ia ficar tudo bem. Eu não acreditava e ela falava pra eu parar de ser boba. Quando me chamavam pra fazer alguma coisa, ir no cinema, dormir na casa da vó, eu sempre olhava pra ela, pra ver se ela iria também. Passamos alguns dias na casa de parentes no interior e ela ia pra minha cama ficar comigo, porque eu estava com saudade da mãe e do pai.

Quando eu mudei pro outro quarto, ela não gostava que eu entrasse no dela e muito menos sentasse na cama. E eu implorava pra ela ficar comigo no meu. Não disputávamos mais o lugar no banco do carro, disputávamos o tempo na internet, que só usávamos no fim de semana, conexão discada.

Ela mudou de escola quando foi para o ensino médio, e eu ainda na oitava série iria continuar onde estudávamos. Dois dias antes das aulas começarem, mudei de idéia. Quis ir junto com ela e esses três anos devem ter sido os nossos melhores. Íamos de ônibus dando risada dos outros todos os dias, o bom humor dela contaminando minha rabugice. Guardávamos os segredos uma da outra, nos ajudávamos, éramos amigas.

Ela terminou o colégio e eu tive que lidar com as viagens de ônibus sozinha, calada, rabugenta. Ela passou um mês fora, voltou, entrou na faculdade, começou a dirigir e me levar para todos os lugares. De repente, a vida dela mudou e ela decidiu passar um ano fora. Embarcaria agora no início do ano e só voltaria pro meu casamento, em dezembro.

Um dia, indo pro trabalho, ela disse que aqueles eram os últimos dias que morávamos juntas, pois quando ela voltasse eu já ia me mudar para minha casa nova, e começou a chorar parada no trânsito. Fingi que não era comigo e fui levando.

Eu segurei o choro até os 45 do segundo tempo, pedi pra ela não esquecer de tudo que nossos pais nos ensinaram a vida toda, pra ela lembrar o por que de ter ido quando as coisas ficassem difíceis. E aí, minha irmã, um pedação de mim, embarcou. Sei que passa rápido, que nos falamos todos os dias, mas não é a mesma coisa, nunca mais vai ser. Os dias em que ela comia a sobremesa em câmera lenta enquanto eu devorava a minha em segundos e morria de inveja dela não voltam mais.

Nem preciso dizer que te amo.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

deja vu

Há cinco anos atrás passamos pela mesma coisa. Sim, vai ter que operar, sim é muito grave, sim tem risco. A única diferença é que dessa vez é mais grave e o risco é maior. Ele foi internado sem nenhuma previsão de quando seria a cirurgia. Um dia antes, dormi na casa dele e vi que ele não dormiu nada.

Antes de ir trabalhar, disse pra ele ficar em paz que daria tudo certo. Ele disse um eu sei muito baixinho, e não olhou nos meus olhos para não chorar. Quando eu e o namorido passamos 15 dias hospedados na casa dele, ele fez a mesma coisa na hora de dar tchau. E ainda disse que aquilo tudo era uma palhaçada.

Quando ele bebe, diz que me ama o tempo todo. Quando tá sóbrio é rabugento, implicante e muito sarcástico, mas eu sei que é pra disfarçar. Ele fica muito sem jeito com demonstrações de afeto. Fui no hospital uns três dias seguidos, chego lá e finjo que estamos em casa, abro meu livro, ele assiste o futebol.

Soubemos hoje que a cirurgia será amanhã. Vô, fica em paz que vai dar tudo certo. Eu sei que vai.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Saí do hospital e fui em direção ao metrô Brigadeiro, para encarar minhas duas baldeações e trilhões de estações até chegar até você. No caminho, passei por muitas mesas de bar na calçada da Paulista, gente falando alto, tomando cerveja, tocando violão.

Uma moça me chamou atenção por falar mais alto que os demais, com um copo de cerveja na mão, uma roupa um número menor do que o adequado e saltos muito altos. A impressão que tive foi que ela ficou horas se arrumando para estar ali, e dava pra sentir a insegurança dela de longe. Mesmo rodeada de outras pessoas, ela parecia muito sozinha.

Aí me lembrei de quando eu era assim. Nunca usei roupas menores do que deveria, mas vivia na rua, com um copo de cerveja na mão só para ter algo pra fazer. Saia de casa sem saber para onde ir, e a que horas voltaria. Fumava um cigarro pro tempo passar, mesmo não gostando do cheiro. Ia dormir o mais tarde possível, só para passar o dia seguinte dormindo e matar mais tempo. Ficar acordada a noite era muito mais suportável do que durante o dia.

O metrô me avisou que cheguei na estação que combinamos de nos encontrar. Entro no nosso carro, te abraço e te beijo, tiro os sapatos e fecho os olhos. Vamos para casa, vou colocar seu moletom que peguei pra mim na primeira semana do namoro, e vamos fazer o que fazemos de melhor: ser só nós dois.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Is anybody out there?

Com um impacto brutal, outro carro entrou pela lateral do nosso e seu parachoque cravou seus dentes metálicos no banco traseiro do nosso - o tipo de coisa que só acontece em pesadelos. Minha cabeça se encheu de estilhaços de vidro e pedaços cortantes de metal. De repente começamos a girar no meio da rua como se estivéssemos em um carrosel diabólico.

(...)

Eu vi tudo isso acontecer como se fosse em câmera lenta: os pedaços de vidro preenchendo o ar como uma chuva de prata, o metal rasgando, o fluxo de sangue que esguichou dos lábios de Aidan e o ar de surpresa em seus olhos. Não sabia que ele estava morrendo. Nunca poderia imaginar que em menos de vinte minutos ele estaria morto. Só me passou pela cabeça que ele iria ficar revoltadíssimo com o imbecil que, vindo em nossa direção rápido demais, acertara a lateral do nosso táxi.

(...)

Aidan e eu olhamos um para o outro com cara de "dá pra acreditar que aconteceu uma coisa dessas?", e logo em seguida ele perguntou:
- Baby, você está bem?
- Estou, você também está?
- Tô... - Mas sua voz saiu esquisita, como um gargarejo.
Na frente do seu peito, empapando a camisa e a gravata, havia uma mancha de sangue vermelho-escuro, e aquilo me deixou aflita, porque aquela gravata era uma das quais ele mais gostava.
- Não se preocupe com a gravata - eu me apressei em dizer. - Depois eu lhe compro outra igual.
- Você está sentindo alguma dor? - ele quis saber.
- Não. - Na hora eu não senti nada mesmo. É o velho estado de choque, o grande protetor que nos ajuda a enfrentar o insuportável. - E você?
- Um pouco. - Foi quando eu soube que era muito.

(Marian Keyes)

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

The ones that made me cry

Ross: Rach, come on, look, I know how you must feel.

Rachel: No, you don't, Ross. Imagine the worst things you think about yourself. Now, how would you feel if the one person that you trusted the most in the world not only thinks them too, but actually uses them as reasons not to be with you.

Ross: No, but, but I wanna be with you in spite of all those things.

Rachel: Oh, well, that's, that's mighty big of you, Ross.

Ross: You know what? You know what? If, things were the other way around, there's nothing you could put on a list that would ever make me not want to be with you.

Rachel: Well, then, I guess that's the difference between us. See, I'd never make a list.


*******

Ross: Look, there’s got to be a way we can work past this. I can’t imagine my life without you. Without, without these arms, and your face, and this heart. Your good heart Rach, and, and....

Rachel: No. I can’t, you’re a totally different person to me now. I used to think of you as somebody that would never, ever hurt me, ever. God, and now I just can’t stop picturing with her, I can’t, it doesn’t matter what you say, or what you do, Ross. It’s just changed everything. Forever.

sábado, 8 de janeiro de 2011

Chandler and Monica

Eu sei que sou difícil, que sou mandona, chorona e meu humor só é bom de vez em quando. Mas ele sabe lidar com tudo isso, faz de mim uma pessoa melhor, cuida das minhas manias e aceita os meus defeitos sem deixá-los interferir no amor que sente por mim. Não sei como é possível, mas ele até faz essas características não parecerem ruins...

É isso que faz de nós um casal tão unido, tão amigo. É com ele que eu choro, que eu desabafo minhas frustrações, que eu exponho meus sentimentos, desejos, alegrias. E quando meu humor muda de repente, é só ele me olhar para saber o motivo. Quando estamos entre outras pessoas, ele me olha de longe como quem quer dizer que preferia estar sozinho comigo.

Ele comemora comigo quando uma calça fica larga, quando eu consigo vestir as que não me serviam mais, quando eu termino mais um semestre sacrificante na faculdade, quando eu bato metas no meu trabalho. Comemoramos cada pedacinho pronto da nossa casa e ele deixa a decisão dos detalhes da festa comigo.

Um dia ainda vão inventar uma palavra pra traduzir tudo isso.
Amor é muito pouco.



"I’m sorry. You’re not easy-going, but you’re passionate, and that’s good. And when you get upset about the little things, I think that I’m pretty good about making you feel better about that. And that’s good too. So, they can say that you’re high maintenance, but it’s okay, because I like … maintaining you."