terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Is anybody out there?

Com um impacto brutal, outro carro entrou pela lateral do nosso e seu parachoque cravou seus dentes metálicos no banco traseiro do nosso - o tipo de coisa que só acontece em pesadelos. Minha cabeça se encheu de estilhaços de vidro e pedaços cortantes de metal. De repente começamos a girar no meio da rua como se estivéssemos em um carrosel diabólico.

(...)

Eu vi tudo isso acontecer como se fosse em câmera lenta: os pedaços de vidro preenchendo o ar como uma chuva de prata, o metal rasgando, o fluxo de sangue que esguichou dos lábios de Aidan e o ar de surpresa em seus olhos. Não sabia que ele estava morrendo. Nunca poderia imaginar que em menos de vinte minutos ele estaria morto. Só me passou pela cabeça que ele iria ficar revoltadíssimo com o imbecil que, vindo em nossa direção rápido demais, acertara a lateral do nosso táxi.

(...)

Aidan e eu olhamos um para o outro com cara de "dá pra acreditar que aconteceu uma coisa dessas?", e logo em seguida ele perguntou:
- Baby, você está bem?
- Estou, você também está?
- Tô... - Mas sua voz saiu esquisita, como um gargarejo.
Na frente do seu peito, empapando a camisa e a gravata, havia uma mancha de sangue vermelho-escuro, e aquilo me deixou aflita, porque aquela gravata era uma das quais ele mais gostava.
- Não se preocupe com a gravata - eu me apressei em dizer. - Depois eu lhe compro outra igual.
- Você está sentindo alguma dor? - ele quis saber.
- Não. - Na hora eu não senti nada mesmo. É o velho estado de choque, o grande protetor que nos ajuda a enfrentar o insuportável. - E você?
- Um pouco. - Foi quando eu soube que era muito.

(Marian Keyes)

2 comentários:

  1. EU adorei esse livro! Não tem como não gostar de Marian Keyes, né?

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  2. Se vc quiser dica de livro do estilo da marian, eu posso te passar umas!

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