quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

sister, i miss you



Entwined, you and I
Our souls speak from across the miles
Intertwined, you and I
Our blood flows from the same inside
Half of me, breathes in you
Thoughts of love remain true



Não somos gêmeas por pouco, mas quando éramos pequenas minha mãe nos vestia com roupas iguais. Até 11 anos dividimos o mesmo quarto, e eu fazia uma linha dividindo a minha parte da dela, porque ela era muito bagunceira. Acordávamos cedo e assistíamos o desenho do dinossauro que eu não sei o nome, mas deve ser Dino (dã). No banco de trás do carro, disputávamos o meio, para ficar com a cabeça no meio dos nossos pais.

Quando ela foi para a primeira série, e eu fazia todas as lições de casa dela estando no pré, não gostei muito da mudança, dela ter um uniforme diferente do meu, amigos que eu não conhecia, material escolar mais bonito, uma mochila de carrinho de gente grande verde e a minha de criança, rosa, da minnie.

Ela segurava minha mão quando nossos pais brigavam e falava pra eu não ligar, que ia ficar tudo bem. Eu não acreditava e ela falava pra eu parar de ser boba. Quando me chamavam pra fazer alguma coisa, ir no cinema, dormir na casa da vó, eu sempre olhava pra ela, pra ver se ela iria também. Passamos alguns dias na casa de parentes no interior e ela ia pra minha cama ficar comigo, porque eu estava com saudade da mãe e do pai.

Quando eu mudei pro outro quarto, ela não gostava que eu entrasse no dela e muito menos sentasse na cama. E eu implorava pra ela ficar comigo no meu. Não disputávamos mais o lugar no banco do carro, disputávamos o tempo na internet, que só usávamos no fim de semana, conexão discada.

Ela mudou de escola quando foi para o ensino médio, e eu ainda na oitava série iria continuar onde estudávamos. Dois dias antes das aulas começarem, mudei de idéia. Quis ir junto com ela e esses três anos devem ter sido os nossos melhores. Íamos de ônibus dando risada dos outros todos os dias, o bom humor dela contaminando minha rabugice. Guardávamos os segredos uma da outra, nos ajudávamos, éramos amigas.

Ela terminou o colégio e eu tive que lidar com as viagens de ônibus sozinha, calada, rabugenta. Ela passou um mês fora, voltou, entrou na faculdade, começou a dirigir e me levar para todos os lugares. De repente, a vida dela mudou e ela decidiu passar um ano fora. Embarcaria agora no início do ano e só voltaria pro meu casamento, em dezembro.

Um dia, indo pro trabalho, ela disse que aqueles eram os últimos dias que morávamos juntas, pois quando ela voltasse eu já ia me mudar para minha casa nova, e começou a chorar parada no trânsito. Fingi que não era comigo e fui levando.

Eu segurei o choro até os 45 do segundo tempo, pedi pra ela não esquecer de tudo que nossos pais nos ensinaram a vida toda, pra ela lembrar o por que de ter ido quando as coisas ficassem difíceis. E aí, minha irmã, um pedação de mim, embarcou. Sei que passa rápido, que nos falamos todos os dias, mas não é a mesma coisa, nunca mais vai ser. Os dias em que ela comia a sobremesa em câmera lenta enquanto eu devorava a minha em segundos e morria de inveja dela não voltam mais.

Nem preciso dizer que te amo.

terça-feira, 8 de fevereiro de 2011

deja vu

Há cinco anos atrás passamos pela mesma coisa. Sim, vai ter que operar, sim é muito grave, sim tem risco. A única diferença é que dessa vez é mais grave e o risco é maior. Ele foi internado sem nenhuma previsão de quando seria a cirurgia. Um dia antes, dormi na casa dele e vi que ele não dormiu nada.

Antes de ir trabalhar, disse pra ele ficar em paz que daria tudo certo. Ele disse um eu sei muito baixinho, e não olhou nos meus olhos para não chorar. Quando eu e o namorido passamos 15 dias hospedados na casa dele, ele fez a mesma coisa na hora de dar tchau. E ainda disse que aquilo tudo era uma palhaçada.

Quando ele bebe, diz que me ama o tempo todo. Quando tá sóbrio é rabugento, implicante e muito sarcástico, mas eu sei que é pra disfarçar. Ele fica muito sem jeito com demonstrações de afeto. Fui no hospital uns três dias seguidos, chego lá e finjo que estamos em casa, abro meu livro, ele assiste o futebol.

Soubemos hoje que a cirurgia será amanhã. Vô, fica em paz que vai dar tudo certo. Eu sei que vai.

segunda-feira, 7 de fevereiro de 2011

Saí do hospital e fui em direção ao metrô Brigadeiro, para encarar minhas duas baldeações e trilhões de estações até chegar até você. No caminho, passei por muitas mesas de bar na calçada da Paulista, gente falando alto, tomando cerveja, tocando violão.

Uma moça me chamou atenção por falar mais alto que os demais, com um copo de cerveja na mão, uma roupa um número menor do que o adequado e saltos muito altos. A impressão que tive foi que ela ficou horas se arrumando para estar ali, e dava pra sentir a insegurança dela de longe. Mesmo rodeada de outras pessoas, ela parecia muito sozinha.

Aí me lembrei de quando eu era assim. Nunca usei roupas menores do que deveria, mas vivia na rua, com um copo de cerveja na mão só para ter algo pra fazer. Saia de casa sem saber para onde ir, e a que horas voltaria. Fumava um cigarro pro tempo passar, mesmo não gostando do cheiro. Ia dormir o mais tarde possível, só para passar o dia seguinte dormindo e matar mais tempo. Ficar acordada a noite era muito mais suportável do que durante o dia.

O metrô me avisou que cheguei na estação que combinamos de nos encontrar. Entro no nosso carro, te abraço e te beijo, tiro os sapatos e fecho os olhos. Vamos para casa, vou colocar seu moletom que peguei pra mim na primeira semana do namoro, e vamos fazer o que fazemos de melhor: ser só nós dois.

terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

Is anybody out there?

Com um impacto brutal, outro carro entrou pela lateral do nosso e seu parachoque cravou seus dentes metálicos no banco traseiro do nosso - o tipo de coisa que só acontece em pesadelos. Minha cabeça se encheu de estilhaços de vidro e pedaços cortantes de metal. De repente começamos a girar no meio da rua como se estivéssemos em um carrosel diabólico.

(...)

Eu vi tudo isso acontecer como se fosse em câmera lenta: os pedaços de vidro preenchendo o ar como uma chuva de prata, o metal rasgando, o fluxo de sangue que esguichou dos lábios de Aidan e o ar de surpresa em seus olhos. Não sabia que ele estava morrendo. Nunca poderia imaginar que em menos de vinte minutos ele estaria morto. Só me passou pela cabeça que ele iria ficar revoltadíssimo com o imbecil que, vindo em nossa direção rápido demais, acertara a lateral do nosso táxi.

(...)

Aidan e eu olhamos um para o outro com cara de "dá pra acreditar que aconteceu uma coisa dessas?", e logo em seguida ele perguntou:
- Baby, você está bem?
- Estou, você também está?
- Tô... - Mas sua voz saiu esquisita, como um gargarejo.
Na frente do seu peito, empapando a camisa e a gravata, havia uma mancha de sangue vermelho-escuro, e aquilo me deixou aflita, porque aquela gravata era uma das quais ele mais gostava.
- Não se preocupe com a gravata - eu me apressei em dizer. - Depois eu lhe compro outra igual.
- Você está sentindo alguma dor? - ele quis saber.
- Não. - Na hora eu não senti nada mesmo. É o velho estado de choque, o grande protetor que nos ajuda a enfrentar o insuportável. - E você?
- Um pouco. - Foi quando eu soube que era muito.

(Marian Keyes)