domingo, 31 de março de 2013

sobre as panelas sujas e a solução que nunca chegou

Você precisa cozinhar todos os dias, o que faz uma bagunça enorme, mas quem disse que cozinhar precisa ser obrigação? Você coloca uma música, ou deixa rolar na tv o seriado que você mais gosta e sabe as piadas de cor, e cozinhar te distrai, te relaxa. Comer é ótimo. Mas você odeia lavar as panelas. E são muitas. É a panela de pressão grande que fez o feijão, a menor que fez o purê de batatas, a frigideira que fritou o bife, a panela redondinha que fez o arroz.

Não conheço ninguém que GOSTE de lavar panelas. Mas faz parte, é comum, todo mundo lava. O mundo seria perfeito sem panelas sujas, mas nada nunca é, então elas existem e tomam muito espaço na pia e no escorredor. Mas você, particularmente, odeia lavar as panelas mais do que qualquer outra coisa. E aí, quando você descobre que existe uma lava-louças que lava as benditas panelas (até a panela de pressão, veja bem), você acredita que seus problemas acabaram, e cozinha todos os dias. Feliz. Esperançosa. Confiante de que uma rotina sem lavar panelas te satisfaça.

A lava-louças tá lá. Tem um lugar pra embutir nos móveis planejados que você mandou fazer e pagou uma fortuna e teve uma dor de cabeça sem fim, porque é claro que não deu tudo certo na instalação (mas você sempre achou que riria disso no futuro). O encanamento tá pronto, qualquer dúvida é só consultar o manual. É simples, é prático, você cozinha, a máquina faz o trabalho dela e a vida continua. Cozinhar é prazeroso, se for assim. Você come com mais vontade, sabendo que não terá trabalho.

Mas a máquina não foi instalada nunca e perdeu o prazo de troca.
Cozinhar perdeu a graça e não há seriado preferido que a faça mudar de idéia.




terça-feira, 26 de março de 2013

das desistências

Desisti. E isso é a coisa mais triste que tenho a dizer. A coisa mais triste que já me aconteceu. Eu simplesmente desisti. Não brigo mais com a vida, não quero entender nada. Vou nos lugares, vejo a opinião de todo mundo, coisas que acho deprê, outras que quero somar, mas as deixo lá. Deixo tudo lá. Não mexo em nada. Não quero. Odeio as frases em inglês mas o tempo todo penso “I don’t care”. Me nego a brigar. Pra quê? Passei uma vida sendo a irritadinha, a que queria tudo do seu jeito. Amor só é amor se for assim. Sotaque tem que ser assim. Comer tem que ser assim. Dirigir, trabalhar, dormir, respirar. E eu seguia brigando. Querendo o mundo do meu jeito. Na minha hora. Querendo consertar a fome do mundo e o restaurante brega. Agora, não quero mais nada. De verdade. Não vejo o que é feio e o que é bonito. Não ligo se a faca tirar uma lasca do meu dedo na hora de cortar a maça. Não ligo pra dor. Pro sangue. Pro desfecho da novela. Se o trânsito parou, não buzino. Se o brinco foi pelo ralo, foda-se. Deixa assim. A vida é assim. Não brigo mais. Não quero arrumar, tentar, me vingar, não quero segunda chance, não quero ganhar, não quero vencer, não quero a última palavra, a explicação, a mudança, a luta, o jeito. Eu quero não sentir. Quero ver a vida em volta, sem sentir nada. Quero ter uma emoção paralítica. Só rir de leve e superficialmente. Do que tiver muita graça. E talvez escorrer uma lágrima para o que for insuportável. Nada pessoal. Algo tipo fantoche, alguém que enfie a mão por dentro de mim, vez ou outra, e me cause um movimento qualquer. Quero não sentir mais porra nenhuma. Só não sou uma suicida em potencial porque ser fria me causa alguma curiosidade. O mundo me viu descabelar, agora vai me ver dormir. Eu quis tanto ser feliz. Tanto. Chegava a ser arrogante. Tanta coisa dentro do peito. Tanta vida. Tanta coisa que só afugenta a tudo e a todos. Ninguém dá conta do saco sem fundo de quem devora o mundo e ainda assim não basta. Ninguém dá conta e quer saber? Nem eu. Chega. Não quero mais ser feliz. Nem triste. Nem nada. Eu quis muito mandar na vida. Agora, nem chego a ser mandada por ela. Eu simplesmente me recuso a repassar a história, seja ela qual for, pela milésima vez. Deixa a vida ser como é. Desde que eu continue dormindo. Ser invisível, meu grande pavor, ganhou finalmente uma grande desimportância. Quase um alivio. I don’t care.


(Tati Bernardi)

segunda-feira, 25 de março de 2013

every new beggining comes from some other beggining's end

Quando você tem 18 anos e decide se casar, as pessoas encontram muita coisa pra te dizer. Coisas boas, ruins, sinceras, doloridas, felizes. E você ignora todas elas, porque você tem 18 anos e decidiu casar, e nada mais importa. 
Quando você tem 21 anos e decide se separar, as pessoas encontram ainda mais coisas pra te dizer e você se impressiona com a quantidade de clichês que é possível alguém repetir em menos de uma hora. É um "vai ficar tudo bem" sem fim, é contar a história da vizinha da amiga da colega de trabalho, é "que bom que você não arrumou filho" (nunca vou entender esse lance de ~arrumar filho~), "que bom que você ainda é nova". 

Na boa, que bom é o caralho. É um saco que você não tenha tido um filho, que pena que tudo foi pro brejo com você assim tão nova. Separação é um processo doloroso, e daqui vinte anos seria vinte vezes mais, mas você daria qualquer coisa pra ter tido um bocado de anos felizes antes de tudo desmoronar. 

É frustrante, revoltante, é uma sensação de fracasso e tristeza você ter se dado conta de que a vida fez uma curva em algum momento e você acabou parando no lugar errado. É dolorido pensar que você até viu a curva, bem de longe, mas achou que nunca nada de mal aconteceria, porque afinal de contas, a vida não deveria ser assim. Não quando existe tanto, mas tanto amor. 

Optar por uma separação é difícil em todos os níveis possíveis. Seria mais fácil continuar vivendo, um dia de cada vez, sofrendo um pouquinho por vez, no conforto de uma casa que foi desenhada e escolhida e sonhada durante anos. Dentro de uma casa que em casa tijolo guarda o esforço, a vontade, o sonho de que ali seria o cenário de uma vida tranquila, cheia de amor, com cheiro de família. Mas é aquela velha história de que você não pode se acostumar com o que não te faz feliz. 

Optar por uma separação é incrivelmente difícil, principalmente porque você tem a opção. Você queria não ter, queria que decidissem por você, porque você só tem 21 anos e isso tudo é too much. Mas você acorda um dia na casa dos seus pais, em uma cama de solteiro e um quarto com furos nas paredes, pelado, vazio, e embora seja a situação mais triste do mundo, seu coração tá em paz e quem sabe, amanhã, você sinta alguma outra coisa. Tipo esperança. 

segunda-feira, 11 de março de 2013

Casinha Branca - por Danielle Means

Às vezes você constrói uma casa. Tudo pensado com carinho. Cada cômodo, cada mobília… Você quer sua casa aconchegante, quer receber as pessoas que ama, quer ser feliz.

Com o tempo você vai percebendo que a casa é quente. Percebe que os móveis trazem desconforto por causa do calor… O fogão não está muito bom… Ou a comida fica crua ou queima. Com o tempo aquela casa se torna um pesadelo… Mas é a SUA casa. A casa que você levou tempos para construir… Então tudo é uma questão de paciência. Você compra um ar-condicionado, reforça as telhas, faz uma piscina. Todos os dias você cozinha na esperança de desta vez vai dar certo…se já deu uma vez, por que não vai dar de novo? Mas não dá…ela queima de novo ou ficou crua de novo. Você não entende por que o ar-condicionado não funciona direito. Talvez seja a instalação mal feita. Talvez seja defeito de fábrica… Mas você espera. Vai ver o dia estava muito quente.

Com o tempo a sua casa só te dá tristeza. Mas é a SUA casa. Você não quer vender… Você construiu com tanto carinho… Vai ter um jeito. O tempo vai melhorar. Você vive cada dia… Não dorme, não tem mais paz. Mas você espera, porque o tempo vai melhorar. A comida você vai acertar. Deixa o carpete, porque por mais que 90% dos dias sejam quentes, vai chegar pelo menos um dia de frio.

Você espera o frio. Você espera o tempo da comida. Você pensa em mudar… Você pensa em vender… Mas é a SUA casa. Todo trabalho, todo esforço… Não é justo. Você tem pena de se desfazer do que construiu. E você já se esforçou tanto… Você gastou tudo que tinha. Você tenta todos os dias, mas aquela casa não te faz mais feliz. Não é mais aconchegante. Não parece mais com você. Por quê? Você fez de tudo… Colocar à venda? Melhor esperar alguém que se interesse. Você não pode deixar tudo para trás… São suas esperanças… sua casa…sua vida.

Um dia você acorda suada, com fome e doente.
Escuta…Vai embora…Vai embora! Não adianta… Tudo que você poderia fazer, você já fez. Não espere o tempo melhorar. Não espere a casa voltar ao que era…Você já tentou… Talvez por falta de sorte… Não importa. Vai embora…Não fique com pena do dinheiro que gastou. Não fique com pena das noites sem dormir. Não lamente todo esforço. Vai embora! Mesmo que não tenha para onde ir. Não tente mudar os móveis de lugar. Não tente consertar o que quebrou. Não pense mais no que você pode ter feito de errado… Vai embora! Vai embora agora! Não leve nada com você, não olhe para trás…saiba desistir do que te faz infeliz.

Pessoas vão dizer que você não se esforçou.
Vão dizer que poderia ter tentado mais.
Vão dizer que a culpa é sua, porque não ouviu quem entendia mais que você.
Vão dizer que a culpa é sua, porque você é teimosa.
Vão dizer que a culpa é sua, porque você tinha que ter feito diferente.

Algumas pessoas vão te apoiar, mas nenhuma vai te oferecer abrigo.
Outras não vão saber por onde você anda.Só você pode se ajudar.
Só você sabe o que é melhor para sua vida.
Só você sabe de suas dores.

E só Deus vai te dar forças para começar tudo de novo.