sábado, 31 de julho de 2010

sobre Londres II

A sensação que eu tinha era que a cidade combinava comigo e eu com ela. O tempo fechado, tudo organizadinho e limpo. O metrô confortável, o ônibus mais ainda. Um café no Starbucks a caminho da aula, o almoço no Subway e um cochilo na grama do parque e uma leitura calminha.

Livros por £3, Pringles por £1 e muitas barrinhas de kit kat. Compras na Oxford Street, fotos nos pontos clichês, encontrar brasileiros trabalhando no mcdonald's. Conhecer gente de nome esquisito, que eu nem sabia pronunciar. Contar na sala de aula como funcionava nosso sistema de eleições e ver muita gente assustada (como assim é obrigado a votar?). Explicar o que é espiritismo, ensinar a host mother a fazer brigadeiro, contar pra eles como era minha casa aqui no Brasil (como assim SÓ dois andares?).

A host family tornou a solidão mais suportável. Um casal de idosos muito bonzinhos, com filhos e netos espalhados pelo mundo. Um dia eles disseram que eu estava homesick demais e resolveram me levar para passear. Fomos a um parque que dava para ver Londres inteira e andamos de carro pelo bairro rico, onde eu vi mansões dignas dos filmes do Riquinho.

O John se interessava muito pelos nossos costumes, o tamanho da nossa casa, como era nosso carro, reuniões em família. A Josie queria saber do meu namoro, se eu ia casar quando voltasse e como eu tive coragem de viajar sozinha tão nova. Ela dizia que eu gastava muito dinheiro chegando em casa todo dia com presentinhos.

Eles me deram um cheesecake para eu experimentar. Adorei. A partir desse dia eles deixavam minha janta e um cheescake em cima da mesa de sobremesa. Um dia esqueci de avisar que chegaria tarde em casa, que não iria jantar. Cheguei quase meia noite e os dois, que geralmente se recolhiam às nove, estavam na sala me esperando. "Ficamos preocupados com você".

Fiz uma amiga lá, a Júlia. Fui no casamento dela há algumas semanas aqui no Brasil. Ela era minha companhia mais frequente de compras no Tesco e de fotos. A gente sentava na Trafalgar Square e ficávamos olhando os aviões passando, desejando estar voando de volta pra casa (de volta pros namoridos) ao mesmo tempo que queríamos ficar lá para sempre.

Faria tudo de novo, apesar da saudade absurda de tudo que eu deixei aqui. Quero voltar mais vezes, mas nunca mais sozinha. Quando planejei essa viagem, eu era sozinha. Quando embarquei não era mais e foi difícil continuar com o combinado, mas dentre tantas coisas que eu me dei conta estando lá, e quando vi o namorido me esperando na volta, tive mais certeza ainda de que meu lugar era nos braços dele. Nunca mais ficamos um dia sem pelo menos um abraço.

do medo

Desde o assalto eu acho que tudo de ruim vai acontecer. O carro vai bater, o ônibus vai tombar na curva, o prédio vai pegar fogo, alguém vai cair na linha do metrô, o trem vai descarrilhar, eu vou ter uma cãimbra durante a natação e me afogar.

Não que eu realmente ache que tudo isso vai acontecer, mas agora sei que existe a possibilidade. Claro que as possibilidades sempre existiram, mas antes do assalto eu nunca tinha parado para pensar nisso. E pensar tanto nisso tem me deixado doida e a falta de um aparelhinho que toque músicas enquanto eu ando por aí não tem ajudado.

Deve fazer quase um mês do susto e eu tenho melhorado, tenho pensado menos em todas as coisas ruins que podem acontecer, não só comigo, mas com todo mundo que eu gosto. Sou muito mais atenta e preocupada agora. Pensando bem, eu era um alvo super fácil, porque andava tranquila demais por aí.

Fico pensando como será que é ter um filho e não poder afastar todo o mal do mundo de perto dele. Mas o que me resta é comprar um ipod novo para distrair um pouco enquanto vou para casa abraçar o namorido e meus pais. Porque do lado deles eu me sinto segura.

segunda-feira, 26 de julho de 2010

sobre Londres I

Lembro direitinho da cara dos meus pais, da minha irmã e principalmente do namorido quando eu entrei na fila do portão de embarque, para virar a esquina e só aparecer de novo um mês depois. Assim que virei a esquina, quando ninguém mais poderia me ver, eu chorei muito.

Antes de entrar no avião corri no orelhão e liguei pro namorido mais uma vez, só para dizer mais um euteamo do mesmo DDI. Ele estava sério. Acho que tava segurando o choro na frente da minha família toda.

Embarquei.

Horas e horas sem nada para fazer, passando fome com a comida ruim do avião. Eu que sou tão comilona esqueci de levar besteirinhas na bagagem de mão. Só de pensar em ficar longe do namorido eu já perdia o rumo, até de comida eu esqueci (quem me conhece sabe o quanto isso é grave).

Assim que encontrei meu lugar e me acomodei, abri a cartinha que ele tinha dito pra eu ler só depois de embarcar. Chorei mais um montão. As pessoas que estavam do meu lado estavam começando a se assustar. 13 horas de voo, foi o máximo de tempo que já fiquei sem falar com ele durante esse tempo todo juntos.

Aí milhões de horas e de mil turbulências e pernas inchadas depois, chegamos à Londres. Que beleza. Minhas malas chegaram junto comigo (um milagre) e lá fui eu atrás de um orelhão e de um táxi. Descobri que não sabia fazer chamada a cobrar de lá e desejei ter me preparado melhor.

Sentia falta dele. Ele saberia o que fazer se estivesse lá comigo. Chorei mais um pouquinho e entrei no táxi, dizendo o endereço que ficaria por aquele tempo em um inglês mais bonitinho do que eu achava que eu tinha.

(continua)

quinta-feira, 22 de julho de 2010

das copas do mundo

Acabou mais uma. Fico pensando como estaremos na próxima.

Eu queria estar de barrigão com um bebê me chutando, mas o namorido diz que é melhor só depois da copa, porque ele não quer ter que se preocupar com mais nada além do futebol (¬¬). Já estaremos acostumados com nossa casa, que hoje ainda nem está pronta. Já teremos até trocado os móveis de lugar. Já terei caído da escada e chorado enquanto você ria, já terei feito muita coisa ruim no fogão, já terei cortado meu dedo enquanto descascava um abacaxi. Ele já terá trocado lâmpadas, a resistência do chuveiro, colocado mais prateleiras. Já teremos adormecido no sofá, ido dormir com a pia cheia de louça e se arrependido na manhã seguinte. Já teremos brigado muito, mas nunca dormido separados. Eu já até saberei lavar roupa sem manchar nada.

Talvez o Pirata ainda esteja lá, querendo entrar em casa e eu fazendo cara de 'não' e ele de 'sim'.

Em pensar que na última copa eu era só eu e você era só você. Que nosso 'nós' ainda não existia. Que meu dedo anelar não carregava seu nome, que meus sonhos eram ruins e eu não tinha você para ligar quando acordava assustada.

Estou ansiosa para todas as próximas copas que estaremos juntos. Eu Brasil e você Itália. Tão diferentes, mas tão um só.

quarta-feira, 7 de julho de 2010

do assalto

Último sábado, aniversário de namoro, mimimi. Fui ao shopping com minha irmã comprar umas coisinhas, e um presentinho pro namorido. Tínhamos uma festa junina para comemorar os aniversários do mês à noite.

Compramos o que precisávamos e, ao parar em um farol, conversando distraídas e rindo muito, quatro (ou três, não me lembro bem) 'pessoas' (por falta de um termo melhor) encostaram no carro e arrancaram tudo da gente. Minha bolsa, nossos celulares, correntes, sacolas que estávamos trazendo do shopping e o pior: a aliança de compromisso dela e a minha de noivado.

Quando o cara que encostou no meu vidro tentou tirar a minha aliança, e ela não saia, ele começou a me machucar. Gritei e fui obrigada a tirar, eu mesma, e dar na mão dele. Horrível. De repente eles estavam mandando minha irmã abrir as portas de trás, pensei que eles fossem entrar no carro, mas "só" pegaram todas as sacolas que estavam no banco.

Quando me dei conta, estávamos só eu, ela e o carro. Sem nada. A coisa toda durou vinte segundos, no máximo, às três da tarde, cheio de carros em volta. Fiquei chocada. Quando olhei para a minha mão e vi que minha aliança não estava lá, parecia que eu tinha perdido um pedação de mim. Pode parecer bobagem, mas a aliança significava muito pra mim.

Fiquei muito assustada. Tentei me conformar. O difícil é ouvir as pessoas dizerem "pelo menos não fizeram nada com vocês" e tal. Pelo jeito tomarem tudo que você trabalhou pra conquistar é normal. Não me conformo. Tudo que tinha na bolsa era meu: minha carteira com recadinhos do namorido, fotos, todos os meus cartões, minha bolsinha de maquiagem, meus livros em inglês, o presente do namorido, meus documentos, meu ipod, meu celular, o chaveiro que a Lê me trouxe de Barcelona...

Muitas dessas coisas não dá para comprar de novo, substituir. Namorido me deu outra aliança, é linda, quase igual a outra, mas ainda preciso de um tempo para contar pra ela o quanto ela é importante. O quanto eu amo o nome que tá lá dentro.

O que me deixa triste é que ser decente não garante segurança a ninguém. Pois é.

sábado, 3 de julho de 2010

Your arms will ever be my home

Há dois anos atrás não tínhamos nada em comum.

Hoje ele é meu melhor amigo, minha melhor companhia. Ele sabe tudo sobre mim, me conhece como ninguém e me ajuda quando as coisas ficam difíceis.

Sou muito feliz por ter encontrado o que estava faltando em mim. Meu coração é cheio de amor e de paz.

Feliz dois anos de namoro, hubby.
Obrigada por tudo, tudo, tudo.