segunda-feira, 29 de abril de 2013

Carta para Manuella

Manuella,

Você chegou, parece que foi ontem e parece que faz um ano, toda pequena e rosa e inchadinha e cabeluda e linda, linda, linda. Você chegou há dois meses e dois dias, a gente se conhece pouco e a situação não é das melhores aqui dentro de mim, mas você me sara, me alegra, me dá paz.

Hoje, na minha vida, não existe nada mais tranqüilizante que ter você dormindo no meu colo, respirando devagarinho, apertando meu dedo com sua mãozinha tão pequena.

Você chegou quando eu mais precisava. Obrigada por ter vindo e por ter falado pra sua mamãe me escolher como sua madrinha, porque ter você próxima de mim conforta meu coração. Olhar pra você, tão pequena e inocente, me dá vontade de viver pra te ver crescer, ser feliz e muito amada.

Com carinho,
Sua madrinha

quarta-feira, 24 de abril de 2013

apatia, anemia, desapego, trânsito

Fui ao centro espírita hoje e não senti nada. Absolutamente nada. Penso que diante de todas as coisas ruins que eu ando sentindo, foi uma benção. Mas algo me diz que tô me aproximando da apatia. Eu não levo jeito nenhum pra ser apática, mas veja só que ironia: eu sou anêmica.

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O que seria de nossas relações se não existisse orgulho? Se não houvesse essa pressão toda pra termos amor próprio?

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Pra tudo na vida existe uma trilha sonora. A minha hoje eu escolhi. Coloquei aquela música pra tocar e preencher o vazio do silêncio e todo o ressentimento ficou dentro dela. Agora é só não ouvir a música nunca mais na vida.

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Porque as coisas são simples sim e a gente é que complica.

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Eu odeio barulhos. Barulho de televisão, de comentaristas de rádio, de música pesada, do vento, dos ônibus.
O barulho que o silêncio faz me acalma e me enlouquece.

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Leio os mesmos livros repetidas vezes, não pratico o desapego, não ligo o foda-se, não espero que amanhã vá passar. Tenho ânsia de tudo porque o desconhecido me dá tanto medo quanto um carro que nunca dá seta pra trocar de faixa.

E eu não dirijo bem.

domingo, 14 de abril de 2013

porque hoje já é outro dia

Ontem chorei. Por tudo que fomos. Por tudo o que não conseguimos ser. Por tudo que se perdeu. Por termos nos perdido. Pelo que queríamos que fosse e não foi. Pela renúncia. Por valores não dados. Por erros cometidos. Acertos não comemorados. Palavras dissipadas.Versos brancos. Chorei pela guerra cotidiana. Pelas tentativas de sobrevivência. Pelos apelos de paz não atendidos. Pelo amor derramado. Pelo amor ofendido e aprisionado. Pelo amor perdido. Pelo respeito empoeirado em cima da estante. Pelo carinho esquecido junto das cartas envelhecidas no guarda-roupa. Pelos sonhos desafinados, estremecidos e adiados. Pela culpa. Toda a culpa. Minha. Sua. Nossa culpa. Por tudo que foi e voou. E não volta mais, pois que hoje já é outro dia.

Caio Fernando Abreu

terça-feira, 9 de abril de 2013

sopa de letrinhas

Aquele momento em que tudo acabou. Aquela palavra ou aquele silêncio que colocou tudo a perder. Aquilo vai acontecendo e você se dá conta, talvez porque lê demais, que aquela é a cena que termina um capítulo. Aquela é a cena dolorida, que muda tudo. E você tá calma, talvez por achar que saber que esse é o fim é menos pior que o fim chegar enquanto você tá dormindo. Você não gosta de surpresas, você chora toda vez que leva um susto. 

Você vê tudo desmoronando e não faz nada. Continua parada, respirando, olhando pro nada. Você sabe que tudo vai cair na sua cabeça. Você sabe que precisa fazer algo, falar algo, porque talvez mude as coisas, reverta a situação. Mas seu coração tá quieto, mudo. Parece que não tá ali, foi dar uma volta, espairecer. E quando ele volta, ele não se sente mais em casa. Ele não se encaixa, aquele lugar não parece dele. Tão confortável e tão familiar, chega a doer. 

Tudo é ao mesmo tempo igual e diferente. E essa sensação de estar caindo alterna com a sensação de estar parada enquanto todo mundo segue e uma voz chata, baixinha, no fundo, te diz que você saberia que seria assim, que você estava esperando por isso o tempo todo, e talvez esperar por isso não tenha feito tudo isso realmente acontecer?

Tomei sopa de letrinhas no jantar ontem e a cada colherada eu tentava formar uma palavra. Mas a vida não é assim e tudo que vi foram letras aleatórias.




quarta-feira, 3 de abril de 2013

...



Eu te digo boa noite, viro pro meu lado e penso em todas as coisas que você disse durante o dia. Meu cérebro fica colecionando as coisas ruins que você disse, e empilhando uma sobre as outras, e a pilha fica tão grande das palavras que são proibidas e elas caem todas na minha cabeça e eu começo a chorar, porque é isso que eu faço. É só o que eu sei fazer, quando se trata de você.

Eu consigo ser infeliz. Eu consigo lidar com isso. Veja bem, eu nem sou infeliz o tempo todo. É com a sua infelicidade que eu não sei lidar, não sei conviver, não consigo suportar. O que falta? Eu me pergunto enquanto choro. O que te falta? E a pergunta fica escondida porque, pra ser sincera, eu não quero saber a resposta. Eu tenho medo da resposta.

No fundo, eu sei que o problema não sou eu, sabe? Mas eu consigo achar que isso é ainda pior. Porque aí eu não posso mesmo fazer nada a respeito. Você é infeliz consigo, e eu não consigo ultrapassar essa barreira pra te consertar, pra te acalmar. Você me disse que “viver dói”. Eu também acho. No big deal.
No fundo, nós somos iguais. A diferença é que a minha infelicidade é silenciosa. Enquanto a sua grita. E não é um pedido de socorro.  

domingo, 31 de março de 2013

sobre as panelas sujas e a solução que nunca chegou

Você precisa cozinhar todos os dias, o que faz uma bagunça enorme, mas quem disse que cozinhar precisa ser obrigação? Você coloca uma música, ou deixa rolar na tv o seriado que você mais gosta e sabe as piadas de cor, e cozinhar te distrai, te relaxa. Comer é ótimo. Mas você odeia lavar as panelas. E são muitas. É a panela de pressão grande que fez o feijão, a menor que fez o purê de batatas, a frigideira que fritou o bife, a panela redondinha que fez o arroz.

Não conheço ninguém que GOSTE de lavar panelas. Mas faz parte, é comum, todo mundo lava. O mundo seria perfeito sem panelas sujas, mas nada nunca é, então elas existem e tomam muito espaço na pia e no escorredor. Mas você, particularmente, odeia lavar as panelas mais do que qualquer outra coisa. E aí, quando você descobre que existe uma lava-louças que lava as benditas panelas (até a panela de pressão, veja bem), você acredita que seus problemas acabaram, e cozinha todos os dias. Feliz. Esperançosa. Confiante de que uma rotina sem lavar panelas te satisfaça.

A lava-louças tá lá. Tem um lugar pra embutir nos móveis planejados que você mandou fazer e pagou uma fortuna e teve uma dor de cabeça sem fim, porque é claro que não deu tudo certo na instalação (mas você sempre achou que riria disso no futuro). O encanamento tá pronto, qualquer dúvida é só consultar o manual. É simples, é prático, você cozinha, a máquina faz o trabalho dela e a vida continua. Cozinhar é prazeroso, se for assim. Você come com mais vontade, sabendo que não terá trabalho.

Mas a máquina não foi instalada nunca e perdeu o prazo de troca.
Cozinhar perdeu a graça e não há seriado preferido que a faça mudar de idéia.




terça-feira, 26 de março de 2013

das desistências

Desisti. E isso é a coisa mais triste que tenho a dizer. A coisa mais triste que já me aconteceu. Eu simplesmente desisti. Não brigo mais com a vida, não quero entender nada. Vou nos lugares, vejo a opinião de todo mundo, coisas que acho deprê, outras que quero somar, mas as deixo lá. Deixo tudo lá. Não mexo em nada. Não quero. Odeio as frases em inglês mas o tempo todo penso “I don’t care”. Me nego a brigar. Pra quê? Passei uma vida sendo a irritadinha, a que queria tudo do seu jeito. Amor só é amor se for assim. Sotaque tem que ser assim. Comer tem que ser assim. Dirigir, trabalhar, dormir, respirar. E eu seguia brigando. Querendo o mundo do meu jeito. Na minha hora. Querendo consertar a fome do mundo e o restaurante brega. Agora, não quero mais nada. De verdade. Não vejo o que é feio e o que é bonito. Não ligo se a faca tirar uma lasca do meu dedo na hora de cortar a maça. Não ligo pra dor. Pro sangue. Pro desfecho da novela. Se o trânsito parou, não buzino. Se o brinco foi pelo ralo, foda-se. Deixa assim. A vida é assim. Não brigo mais. Não quero arrumar, tentar, me vingar, não quero segunda chance, não quero ganhar, não quero vencer, não quero a última palavra, a explicação, a mudança, a luta, o jeito. Eu quero não sentir. Quero ver a vida em volta, sem sentir nada. Quero ter uma emoção paralítica. Só rir de leve e superficialmente. Do que tiver muita graça. E talvez escorrer uma lágrima para o que for insuportável. Nada pessoal. Algo tipo fantoche, alguém que enfie a mão por dentro de mim, vez ou outra, e me cause um movimento qualquer. Quero não sentir mais porra nenhuma. Só não sou uma suicida em potencial porque ser fria me causa alguma curiosidade. O mundo me viu descabelar, agora vai me ver dormir. Eu quis tanto ser feliz. Tanto. Chegava a ser arrogante. Tanta coisa dentro do peito. Tanta vida. Tanta coisa que só afugenta a tudo e a todos. Ninguém dá conta do saco sem fundo de quem devora o mundo e ainda assim não basta. Ninguém dá conta e quer saber? Nem eu. Chega. Não quero mais ser feliz. Nem triste. Nem nada. Eu quis muito mandar na vida. Agora, nem chego a ser mandada por ela. Eu simplesmente me recuso a repassar a história, seja ela qual for, pela milésima vez. Deixa a vida ser como é. Desde que eu continue dormindo. Ser invisível, meu grande pavor, ganhou finalmente uma grande desimportância. Quase um alivio. I don’t care.


(Tati Bernardi)

segunda-feira, 25 de março de 2013

every new beggining comes from some other beggining's end

Quando você tem 18 anos e decide se casar, as pessoas encontram muita coisa pra te dizer. Coisas boas, ruins, sinceras, doloridas, felizes. E você ignora todas elas, porque você tem 18 anos e decidiu casar, e nada mais importa. 
Quando você tem 21 anos e decide se separar, as pessoas encontram ainda mais coisas pra te dizer e você se impressiona com a quantidade de clichês que é possível alguém repetir em menos de uma hora. É um "vai ficar tudo bem" sem fim, é contar a história da vizinha da amiga da colega de trabalho, é "que bom que você não arrumou filho" (nunca vou entender esse lance de ~arrumar filho~), "que bom que você ainda é nova". 

Na boa, que bom é o caralho. É um saco que você não tenha tido um filho, que pena que tudo foi pro brejo com você assim tão nova. Separação é um processo doloroso, e daqui vinte anos seria vinte vezes mais, mas você daria qualquer coisa pra ter tido um bocado de anos felizes antes de tudo desmoronar. 

É frustrante, revoltante, é uma sensação de fracasso e tristeza você ter se dado conta de que a vida fez uma curva em algum momento e você acabou parando no lugar errado. É dolorido pensar que você até viu a curva, bem de longe, mas achou que nunca nada de mal aconteceria, porque afinal de contas, a vida não deveria ser assim. Não quando existe tanto, mas tanto amor. 

Optar por uma separação é difícil em todos os níveis possíveis. Seria mais fácil continuar vivendo, um dia de cada vez, sofrendo um pouquinho por vez, no conforto de uma casa que foi desenhada e escolhida e sonhada durante anos. Dentro de uma casa que em casa tijolo guarda o esforço, a vontade, o sonho de que ali seria o cenário de uma vida tranquila, cheia de amor, com cheiro de família. Mas é aquela velha história de que você não pode se acostumar com o que não te faz feliz. 

Optar por uma separação é incrivelmente difícil, principalmente porque você tem a opção. Você queria não ter, queria que decidissem por você, porque você só tem 21 anos e isso tudo é too much. Mas você acorda um dia na casa dos seus pais, em uma cama de solteiro e um quarto com furos nas paredes, pelado, vazio, e embora seja a situação mais triste do mundo, seu coração tá em paz e quem sabe, amanhã, você sinta alguma outra coisa. Tipo esperança. 

segunda-feira, 11 de março de 2013

Casinha Branca - por Danielle Means

Às vezes você constrói uma casa. Tudo pensado com carinho. Cada cômodo, cada mobília… Você quer sua casa aconchegante, quer receber as pessoas que ama, quer ser feliz.

Com o tempo você vai percebendo que a casa é quente. Percebe que os móveis trazem desconforto por causa do calor… O fogão não está muito bom… Ou a comida fica crua ou queima. Com o tempo aquela casa se torna um pesadelo… Mas é a SUA casa. A casa que você levou tempos para construir… Então tudo é uma questão de paciência. Você compra um ar-condicionado, reforça as telhas, faz uma piscina. Todos os dias você cozinha na esperança de desta vez vai dar certo…se já deu uma vez, por que não vai dar de novo? Mas não dá…ela queima de novo ou ficou crua de novo. Você não entende por que o ar-condicionado não funciona direito. Talvez seja a instalação mal feita. Talvez seja defeito de fábrica… Mas você espera. Vai ver o dia estava muito quente.

Com o tempo a sua casa só te dá tristeza. Mas é a SUA casa. Você não quer vender… Você construiu com tanto carinho… Vai ter um jeito. O tempo vai melhorar. Você vive cada dia… Não dorme, não tem mais paz. Mas você espera, porque o tempo vai melhorar. A comida você vai acertar. Deixa o carpete, porque por mais que 90% dos dias sejam quentes, vai chegar pelo menos um dia de frio.

Você espera o frio. Você espera o tempo da comida. Você pensa em mudar… Você pensa em vender… Mas é a SUA casa. Todo trabalho, todo esforço… Não é justo. Você tem pena de se desfazer do que construiu. E você já se esforçou tanto… Você gastou tudo que tinha. Você tenta todos os dias, mas aquela casa não te faz mais feliz. Não é mais aconchegante. Não parece mais com você. Por quê? Você fez de tudo… Colocar à venda? Melhor esperar alguém que se interesse. Você não pode deixar tudo para trás… São suas esperanças… sua casa…sua vida.

Um dia você acorda suada, com fome e doente.
Escuta…Vai embora…Vai embora! Não adianta… Tudo que você poderia fazer, você já fez. Não espere o tempo melhorar. Não espere a casa voltar ao que era…Você já tentou… Talvez por falta de sorte… Não importa. Vai embora…Não fique com pena do dinheiro que gastou. Não fique com pena das noites sem dormir. Não lamente todo esforço. Vai embora! Mesmo que não tenha para onde ir. Não tente mudar os móveis de lugar. Não tente consertar o que quebrou. Não pense mais no que você pode ter feito de errado… Vai embora! Vai embora agora! Não leve nada com você, não olhe para trás…saiba desistir do que te faz infeliz.

Pessoas vão dizer que você não se esforçou.
Vão dizer que poderia ter tentado mais.
Vão dizer que a culpa é sua, porque não ouviu quem entendia mais que você.
Vão dizer que a culpa é sua, porque você é teimosa.
Vão dizer que a culpa é sua, porque você tinha que ter feito diferente.

Algumas pessoas vão te apoiar, mas nenhuma vai te oferecer abrigo.
Outras não vão saber por onde você anda.Só você pode se ajudar.
Só você sabe o que é melhor para sua vida.
Só você sabe de suas dores.

E só Deus vai te dar forças para começar tudo de novo.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Just breathe





'Cause you can't jump the track
We're like cars on a cable
And life's like an hourglass, glued to the table
No one can find the rewind button, girl
So cradle your head in your hands
And breathe, just breathe

There's a light at each end of this tunnel
You shout 'cause you're just as far in
As you'll ever be out
These mistakes you've made, you'll just make them again
If you only try turning around

And I feel like I'm naked in front of the crowd
Cause these words are my diary, screaming and loud
And I know that you'll use them, however you want to


quarta-feira, 13 de fevereiro de 2013

"Esquecer e perdoar. É isso que dizem por aí. É um bom conselho, mas não muito prático. Quando alguém nos machuca, queremos machucá-lo de volta. Quando alguém erra conosco, queremos estar certos. Sem perdão, antigos placares nunca empatam, velhas feridas nunca fecham. E o máximo que podemos esperar é que, um dia, tenhamos a sorte de esquecer."

Grey's Anatomy

segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

Um dia de cada vez

Tenho sido chata, irritante, deprimida, chateada, chorosa. Meu melindre chegou ao nível mais alto. E ele continua aqui. Me amando, colocando sobremesa pra mim no pote maior, me distraindo, me animando, me fazendo rir.

Essa fase vai passar e as coisas serão melhores do que eram, porque é na dificuldade que a gente se une e se livra do que não soma.

Um dia de cada vez.

É fácil amar o outro na mesa de bar, quando o papo é leve, o riso é farto, e o chope é gelado. Nos cafés, após o cinema, quando se pode filosofar sobre o enredo e as personagens com fluência, um bom cappuccino e pão de queijo quentinho. Nos corredores dos shoppings, quando se divide os novos sonhos de consumo, imediato ou futuro. É fácil amar o outro nas férias de verão, no churrasco de domingo, nos encontros erotizados, nas festas agendadas no calendário do de vez em quando.
Difícil é amar quando o outro desaba. Quando não acredita em mais nada. E entende tudo errado. E paralisa. E se vitimiza. E perde o charme. O prazo. A identidade. E fala o tempo todo do seu drama com a mesma mágoa. Difícil amar quando o outro fica cada vez mais diferente do que habitualmente ele se mostra ou mais parecido com alguém que não aceitamos que ele esteja. Difícil é permanecer ao seu lado quando parece que todos já foram embora. Quando as cortinas se abrem e ele não vê mais ninguém na plateia. Quando até a própria alma parece haver se retirado.
Difícil é amar quando já não encontramos motivos que justifiquem o nosso amor, acostumados que estamos a achar que o amor precisa estar sempre acompanhado de explicação. Difícil amar quando parece existir somente apesar de. Quando a dor do outro é tão intensa que a gente não sabe o que fazer para ajudar. Quando a sombra se revela e a noite se apresenta muito longa. Quando o frio é tão medonho que nem os prazeres mais legítimos oferecem algum calor. Quando ele parece ter desistido principalmente dele próprio.
Difícil é amar quando o outro nos inquieta. Quando os seus medos denunciam os nossos e põem em risco o propósito que muitas vezes alimentamos de não demonstrar fragilidade. Quando a exibição das suas dores expõe, de alguma forma, também as nossas, as conhecidas e as anônimas. Quando o seu pedido de ajuda, verbalizado ou não, exige que a gente saia do nosso egoísmo, do nosso sossego, da nossa rigidez, para caminhar ao seu encontro.
Difícil é amar quando o outro repete o filme incontáveis vezes e a gente não aguenta mais a trilha sonora. Quando se enreda nos vícios da forma mais grosseira e caminha pela vida como uma estrela doída que ignora o próprio brilho. Quando se tranca na própria tristeza com o aparente conforto de quem passa um feriadão à beira-mar. Quando sua autoestima chega a um nível tão lastimável que, com sutileza ou não, afasta as pessoas que acreditam nele. Quando parece que nós também estamos incluídos nesse grupo.

Texto de Ana Jácomo

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2013

Gennaro

Eu tenho 21 anos. Eu vivi pouco. Poucas coisas mudaram a minha vida. Ter viajado sozinha, ter casado aos 20, ter concentrado todos os meus esforços no lugar errado... Mas nada se compara ao Gennaro.

O Gennaro não mudou só minha rotina, ele me mudou. Ele é uma fonte inesgotável de amor e carinho e alegria e ternura. Ele me recepciona todo dia como se não me visse há semanas. Mesmo se eu só fui no andar de cima por dez minutos. Ele me percebe triste e me enche de lambidinhas, o que tem sido muito útil nos últimos dias.

O Gennaro é mais eficiente que terapia, ele me diverte mais que Friends, me anima mais que feriado prolongado, me faz acordar cedo sem reclamar e mesmo quando eu tropeço nele sem querer (ele tá em todo lugar o tempo todo) ele abana o rabo porque acha que eu tô brincando.

O Gennaro chegou e nasceu em mim uma mãe de canino que eu nunca imaginei ser.

Amo meu bichinho. Amo muito.