terça-feira, 25 de setembro de 2012


Eu chorei porque eu te amo mas eu não sei amar. Eu chorei porque eu sempre canso de tudo e tudo sempre cansa de mim. Chorei de cansaço profundo de sempre cansar de tudo e tudo sempre cansar de mim. Chorei de apego ao cheiro do novo e principalmente de melancolia pelo cheiro do velho. E chorei porque tudo envelhece com novos cheiros e a vida nunca volta. Eu chorei de pavor da rotina, de pavor do fim, de pavor de sair da rotina e começar outros fins.
Eu chorei meu medo de submissão, o meu medo de vomitar, o meu medo de me mostrar pra você tanto, tanto, e não ter mais o que mostrar. Eu chorei minha infinidade de coisas e o medo de você não querer abrir os mais de um milhão de baús que existem escondidos na caixa cerrada que eu guardo embaixo do meu peito. Eu chorei meu fim e o medo do meu infinito.
E eu teria chorado cinco anos se você não me dissesse que já era hora de parar. E eu chorei depois cinco anos escondida, porque eu não sei a hora de parar e não quero que ninguém me diga.
(…)
A vida voa na sua cara, esbarra no seu rosto, suja sua vaidade, corrompe suas certezas, e você não pode fazer nada. A não ser lavar o rosto e começar tudo de novo.

Tati Bernardi

terça-feira, 18 de setembro de 2012

Olhe, não fique assim não, vai passar. Eu sei que dói. É horrível. Eu sei que parece que você não vai agüentar, mas aguenta. Sei que parece que vai explodir, mas não explode. Sei que dá vontade de abrir um zíper nas costas e sair do corpo porque dentro da gente, nesse momento, não é um bom lugar para se estar. (Fernando Pessoa escreveu, num momento parecido, "hoje não há mendigo que eu não inveje só por não ser eu"). Dor é assim mesmo, arde, depois passa. Que bom. Aliás, a vida é assim: arde, depois passa. Que pena. A gente acha que não vai agüentar, mas agüenta: as dores da vida. Pense assim: agora tá insuportável, agora você queria abrir o zíper, sair do corpo, encarnar numa samambaia, virar um paralelepípedo ou qualquer coisa inanimada, anestesiada, silenciosa. Mas agora já passou. Agora já é dez segundos depois da frase passada. Sua dor já é dez segundos menor do que duas linhas atrás. Você acha que não, porque esperar a dor passar é como olhar um transatlântico no horizonte estando na praia. Ele parece parado, mas aí você desvia o olho, toma um picolé, lê uma revista, dá um pulo no mar e quando vai ver o barco já tá lá longe. A sua dor agora, essa fogueira na sua barriga, essa sensação de que pegaram sua traquéia e seu estômago e torceram como uma toalha molhada, isso tudo – é difícil de acreditar, eu sei – vai virar só uma memória, um pequeno ponto negro diluído num imenso mar de memórias. Levante-se daí, vá tomar um picolé, ler uma revista, dar um pulo no mar. Quando você for ver, passou. Agora não dá mesmo pra ser feliz. É impossível. Mas quem disse que a gente deve ser feliz sempre? Isso é bobagem. Como cantou Vinícius: "É melhor viver do que ser feliz". Porque pra viver de verdade a gente tem que quebrar a cara. Tem que tentar e não conseguir. Achar que vai dar e ver que não deu. Querer muito e não alcançar. Ter e perder. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e dizer uma coisa terrível, mas que tem que ser dita. Tem que ter coragem de olhar no fundo dos olhos de alguém que a gente ama e ouvir uma coisa terrível, que tem que ser ouvida. A vida é incontornável. A gente perde, leva porrada, é passado pra trás, cai. Dói, ai, eu sei como dói. Mas passa. Tá vendo a felicidade ali na frente? Não, você não tá vendo, porque tem uma montanha de dor na frente. Continue andando. Você vai subir, vai sentir frio lá em cima, cansaço. Vai querer desistir, mas não vai desistir, porque você é forte e porque depois do topo a montanha começa a diminuir e o unico jeito de deixá-la pra trás é continuar andando. Você vai ser feliz. Tá vendo essa dor que agora samba no seu peito de salto de agulha? Você ainda vai olhá-la no fundo dos olhos e rir da cara dela. Juro que tô falando a verdade. Eu não minto. Vai passar.

domingo, 5 de agosto de 2012

Eu tenho a sorte de um amor tranquilo, com sabor de fruta mordida. Eu tenho alguém que por mim tomaria banho gelado no inverno e deixaria de beber.
Eu tenho alguém exagerado, jogado aos meus pés, que não acredita em Deus e é cético mas crê na maior forca do mundo.
É o amor mais complicado e o mais simples pra mim. E a gente faria tudo outra vez.
Por minha causa, ele acredita em milagres. Um pelo outro, acreditamos em segundas chances. Terceiras. Quartas. Tudo vale a pena quando a alma não é pequena.
A gente é responsável por aquilo que cativa e se o resultado não é dos melhores a gente volta atras e tenta de novo.
Porque o amor é ferida que dói e não se sente. Dor que desatina sem doer. Não querer mais que bem querer. Estar preso por vontade e liberdade na vida é ter amor pra se prender.
Não ter nada em comum a não ser a vontade de estar junto como Eduardo e Mônica. É ensinar um ao outro a lidar consigo mesmo como Mônica e Chandler.
E hoje em dia, como é que se diz eu te amo? Como convencer o outro do amor? Continuando. Um dia após o outro.
Por nós, eu aceito a vida como ela é. <3

quinta-feira, 14 de junho de 2012

14 de junho. Vinte e um.
Muita gente me desejou muita coisa hoje. E eu tô aqui pensando no que eu desejo pra mim.

Minha vida mudou muito, de um ano pra cá. Esse meu primeiro aniversário longe de "casa" me deu uma sensação esquisita, de se sentir homesick por um lugar que não é mais home. Minha casa é meu lugar, e a casa dos meus pais é só a casa dos meus pais. Mas senti falta de não ter um abraço deles a meia noite, brincar de fazer cócegas no sofá (todos nós somos muito maduros), de fazer brigadeiro na panela e ir dormir de madrugada.

Mas esse ano minha "virada" foi ao lado do Luiz. Meu marido, minha família.
Nosso cachorro ficou muito doente semana passada e isso nos uniu e nos mostrou que juntos, unidos, conseguimos superar qualquer coisa. Conseguimos consolar um ao outro, dar força quando o outro acha que já perdeu. O Luiz nunca ligou para aniversários. Mas ele faz um big deal nesse dia porque sabe que é importante pra mim. Amor é isso.

Nesse mais um ano de vida, eu desejo mais união. Que eu não me sinta sozinha, desamparada, com o mundo nas costas. Que eu continue sabendo dividir isso com alguém. Que eu me permita não ser tão independente e me doe mais. Que tudo doa menos. Que os momentos difíceis passem rápido, e me ensinem alguma coisa, como foi no último ano. Que eu não me desespere com os problemas, que eu não me sinta num elevador com defeito. Que eu saiba, no fundo, que tudo dará certo. Que eu continue o que comecei, que eu não desista, que eu não tenha tanta preguiça.

Que eu não seja uma dessas pessoas que tem tudo, mas não sabe ser feliz.

domingo, 8 de abril de 2012

Pé quebrado e as coisas simples da vida

Acordei na hora de almoço no domingo, ouvi barulhos no andar debaixo e a curiosidade foi maior que a preguiça. Desci, e quase no fim da escada pisei em falso, torci o pé e cai em cima dele. Lembrando que eu não sou NADA leve. Ok.

Marido me viu caindo e começou a gritar "meu deus do céu" e eu só conseguia pensar "mas ele não é ateu?".

Ok, quebrei o pé, achei graça, recebi visitas, lavaram minha louça, ganhei chocolates e assisti seriados como nunca. Cansei de não fazer nada, reclamei, fiquei de saco cheio de ter companhia na hora de fazer xixi e de tomar banho sentada.


Fiquei entediada, me levaram no cabeleireiro, fiquei meio loira, não gostei muito mas vou continuar assim porque foi caro.



Hoje, finalmente, tenho um pé livre e a rotina volta ao normal. Calculo que vou cansar dela num prazo máximo de 72 horas. Veremos.

sábado, 28 de janeiro de 2012

Um medo

Eu já tive medo de muita coisa. Medo da minha mãe morrer dormindo, por isso acordava de madrugada e ia no quarto dela ver se ela estava respirando. Medo de barata. Medo de vomitar. Medo do escuro. Medo da minha mãe descobrir que eu aprontei alguma. Medo de não conseguir preparar tudo pro casamento, um monte de medo bobo.

Mas hoje em dia, parando pra pensar, o que me dá medo é ser dependente e incapaz. Medo de sempre depender de alguém para alguma coisa. Operei as orelhas e fiquei um dia no hospital, com minha mãe me levando pra fazer xixi. Péssima sensação, de não poder nem fazer xixi sozinha. Medo de adoecer, de dar trabalho pra quem vive comigo, de não conseguir cuidar nem de mim.

Isso é medo de gente adulta? Cresci e ninguém me contou? Não acho foto pra coisa assim, abstrata. Vai sem.

terça-feira, 24 de janeiro de 2012

valores

Quando você tem um pai policial, aprende desde cedo o que é certo e o que é errado. Quando você tem um pai policial incorruptível, você aprende o que é inadmissível no caráter de alguém (seja polícia ou bandido).

Ter um pai assim me fez crescer com noções de realidade diferentes de outras pessoas, que não têm a mesma sorte. Sim, sorte. Tenho sorte e morro de orgulho de ter um pai militar, honesto, íntegro, do bem. Policiais não são valorizados, e eu não tô falando nem de remuneração. Um policial só recebe as honras que merece quando morre, e se morrer em serviço. Um policial passa a vida inteira colocando a vida dos outros acima da própria. Sai de casa, deixando família, sem saber se vai voltar. Corre perigo como policial e como civil, o tempo todo.

- Pai, você não tem medo de algo de ruim te acontecer? - vivo perguntando.
- Não. Quando a gente é do bem, coisas ruins não nos acontecem. - ele sempre responde.

Meu pai me ensinou, sendo apenas o que ele é, o quanto vale a pena a gente ser certo e do bem. E uma coisa que ele sempre diz: os ruins são a minoria. Bem comercial de coca-cola, porque meu pai é assim. Do bem.