domingo, 31 de julho de 2011

Lembra?

De quando a gente dividia a pia pra escovar os dentes, de quando a mãe não deixava a gente atravessar a avenida, quando a gente ficava de castigo e não podia ver tv, quando a gente dividia o mesmo quarto e rezávamos juntas antes de dormir, quando a gente ia na padaria e o cigarro custava só R$1,85, de quando a gente ia viajar sem o pai e a mãe e você dormia na cama comigo porque eu chorava, de quando a gente brigava e se arranhava, de quando a gente descia a escada com o colchão, de quando você raspou um pedacinho da minha cabeça com a panasonic, de quando eu fui passar um short seu e queimei, de quando queimamos o brigadeiro e escondemos a panela pra mãe não brigar, e de quando ela achou a panela e não brigou, de quando a gente ouvia o carro da mãe virando a esquina e arrumava a bagunça em cinco segundos, de quando era o meu dia de tomar banho primeiro e eu nunca levantava, de quando a gente ficava assistindo sessão da tarde no sofá, de quando você terminou a escola e eu tive que ficar mais um ano indo pra lá sozinha, de quando eu achava que os seus amigos eram meus também, de quando você começou a faculdade e nossos horários não batiam e a gente nunca se via, de quando você fazia estágio e me deixava no metrô e eu ia dormindo, de quando você decidiu passar esse ano na Irlanda. Lembra?

domingo, 17 de julho de 2011

The end of an era

Lembro da primeira vez que ouvi falar em Harry Potter. Estava no Extra, "ajudando" minha mãe a fazer compras e vi o livro "Harry Potter e a Câmara Secreta". Li a capa, gostei, mãe compra pra mim? Não, hoje não. Ok.

Aí apareceu o primeiro filme. Fui ao cinema e saí de lá cantando "Grifinória, grifinória!!!". Dos livros, lembro apenas a partir do quarto. Peguei emprestado, devorei em três dias, e percebi que a coisa estava ficando mais séria. No quinto livro enchi o saco da minha mãe até ela não aguentar mais, compramos no dia que saiu nas livrarias. A Nobel cobrou o livro duas vezes, mas o que é que tem, vale a pena. Li em três dias e chorei, senti a perda do Sirius.

No sexto livro não aguentei esperar e li pela internet. Li a morte de Dumbledore quando a família toda tava no carro só me esperando pra irmos viajar. Chorei muito mais.

E ontem, o último filme. 10 anos acompanhando uma história que começou bobinha, para crianças, e terminou extraordinária. Não encontrei nenhuma falha na história até hoje. Fico triste por ter acabado, por saber que ao fim do filme ontem não teria mais nada inédito pra ver. Mas me sinto feliz por ter tido a companhia deles nesses 10 anos. No ônibus, no metrô, na cama antes de dormir.

Agora é só guardar o box com todos os filmes e livros e esperar pra mostrar tudo pra filha que eu vou ter um dia.

segunda-feira, 13 de junho de 2011

my valentine

Eu te amo quando você acorda as 4 da manhã porque não consegue mais respirar e me pergunta por que é que o galo canta de olho fechado. Te amo quando você fala pra pessoa do caixa do supermercado que eu torro todo o seu dinheiro. Te amo quando você fala pro vendedor do duty free que todas as bebidas que a gente compra é pra sustentar meu vício. Te amo quando vejo você falando em uma língua estrangeira com os gringos tão perfeitamente. Te amo quando você me explica as coisas que eu não entendo, e explica de novo porque eu continuo sem entender. Te amo quando você bagunça meu cabelo, me olha de cara feia, fica sem paciência. Te amo quando você se preocupa com coisas desnecessárias. Te amo quando você faz pouco caso das minhas preocupações com provas. Te amo quando você finge que não tá nem aí pra festa do casamento. Te amo quando você fala que o Pirata é a pessoa mais importante da sua vida. Te amo quando você tá mal humorado e quando você não quer muita conversa. Te amo quando você dorme. Te amo quando você tá com dor e tenho vontade de pegar ela pra mim, pra te poupar.

A gente esqueceu que ontem era dia dos namorados, mas isso é tão pouco perto do que a gente realmente é...

sexta-feira, 27 de maio de 2011

Amar é Punk - Fernanda Mello

Eu já passei da idade de ter um tipo físico de homem ideal para eu me relacionar. Antes, só se fosse estranho (bem estranho). Tivesse um figurino perturbado. Gostasse de rock mais que tudo. Tivesse no mínimo um piercing (e uma tatuagem gigante). Soubesse tocar algum instrumento. E usasse All Star.

Uma coisa meio Dave Grohl.

Hoje em dia eu continuo insistindo no quesito All Star e rock´n roll, mas confesso que muita coisa mudou. É, pessoal, não tem jeito. Relacionamento a gente constrói. Dia após dia. Dosando paciência, silêncios e longas conversas. Engraçado que quando a gente pára de acreditar em “amor da vida”, um amor pra vida da gente aparece. Sem o glamour da alma gêmea. Sem as promessas de ser pra sempre. Sem borboletas no estômago. Sem noites de insônia. É uma coisa simples do tipo: você conhece o cara. Começa, aos poucos, a admirá-lo. A achá-lo FODA. E, quando vê, você tá fazendo coraçãozinho com a mão igual uma pangaré. (E escrevendo textos no blog para que ele entenda uma coisa: dessa vez, meu caro, é DIFERENTE).

Adeus expectativas irreais, adeus sonhos de adolescente. Ele vai esquecer todo mês o aniversário de namoro, mas vai se lembrar sempre que você gosta do seu pão-de-sal bem branco (e com muito queijo). Ele não vai fazer declarações românticas e jantares à luz de vela, mas vai saber que você está de TPM no primeiro “Oi”, te perdoando docemente de qualquer frase dita com mais rispidez.

Ah, gente, sei lá. Descobri que gosto mesmo é do tal amor. DA PAIXÃO, NÃO. Depois de anos escrevendo sobre querer alguém que me tire o chão, que me roube o ar, venho humildemente me retificar. EU QUERO ALGUÉM QUE DIVIDA O CHÃO COMIGO. QUERO ALGUÉM QUE ME TRAGA FÔLEGO. Entenderam? Quero dormir abraçada sem susto. Quero acordar e ver que (aconteça o que acontecer), tudo vai estar em seu lugar. Sem ansiedades. Sem montanhas-russas.

Antes eu achava que, se não tivesse paixão, eu iria parar de escrever, minha inspiração iria acabar e meus futuros livros iriam pra seção B da auto-ajuda, com um monte de margaridinhas na capa. Mas, CARAMBA! Descobri que não é nada disso. Não existe nada mais contestador do que amar uma pessoa só. Amar é ser rebelde. É atravessar o escuro. É, no meu caso, mudar o conceito de tudo o que já pensei que pudesse ser amor. Não, antes era paixão. Antes era imaturidade. Antes era uma procura por mim mesma que não tinha acontecido.

Sei que já falei muito sobre amor, acho que é o grande tema da vida da gente. Mas amor não é só poesia e refrões. Amor é RECONSTRUÇÃO. É ritmo. Pausas. Desafinos. E desafios.
Demorei anos pra concordar com meu querido (e sempre citado) Cazuza: “eu quero um amor tranqüilo, com sabor de fruta mordida”.
Antes, ao ouvir essa música, eu sempre pensava (e não dizia): porra, que tédio!

Ah, Cazuza!
Ele sempre soube. Paixão é para os fracos. Mas amar - ah, o amor! - AMAR É PUNK.


- Fernanda Mello

sexta-feira, 13 de maio de 2011

Três vezes amor

I wanna marry you because you’re the first person I wanna look at when I wake up in the morning, and the only one I wanna kiss goodnight. Because the first time that I saw these hands, I couldn’t imagine not being able to hold them. But mainly, when you love someone as much as I love you, getting married is the only thing left to do.

terça-feira, 26 de abril de 2011

Eu tô dormindo com o seu edredon.
Não gosto muito porque ele é fininho, e o seu cheiro que estava nele já acabou, mas me sinto mais perto de você, de alguma forma.

Saudade, né.

quarta-feira, 23 de fevereiro de 2011

sister, i miss you



Entwined, you and I
Our souls speak from across the miles
Intertwined, you and I
Our blood flows from the same inside
Half of me, breathes in you
Thoughts of love remain true



Não somos gêmeas por pouco, mas quando éramos pequenas minha mãe nos vestia com roupas iguais. Até 11 anos dividimos o mesmo quarto, e eu fazia uma linha dividindo a minha parte da dela, porque ela era muito bagunceira. Acordávamos cedo e assistíamos o desenho do dinossauro que eu não sei o nome, mas deve ser Dino (dã). No banco de trás do carro, disputávamos o meio, para ficar com a cabeça no meio dos nossos pais.

Quando ela foi para a primeira série, e eu fazia todas as lições de casa dela estando no pré, não gostei muito da mudança, dela ter um uniforme diferente do meu, amigos que eu não conhecia, material escolar mais bonito, uma mochila de carrinho de gente grande verde e a minha de criança, rosa, da minnie.

Ela segurava minha mão quando nossos pais brigavam e falava pra eu não ligar, que ia ficar tudo bem. Eu não acreditava e ela falava pra eu parar de ser boba. Quando me chamavam pra fazer alguma coisa, ir no cinema, dormir na casa da vó, eu sempre olhava pra ela, pra ver se ela iria também. Passamos alguns dias na casa de parentes no interior e ela ia pra minha cama ficar comigo, porque eu estava com saudade da mãe e do pai.

Quando eu mudei pro outro quarto, ela não gostava que eu entrasse no dela e muito menos sentasse na cama. E eu implorava pra ela ficar comigo no meu. Não disputávamos mais o lugar no banco do carro, disputávamos o tempo na internet, que só usávamos no fim de semana, conexão discada.

Ela mudou de escola quando foi para o ensino médio, e eu ainda na oitava série iria continuar onde estudávamos. Dois dias antes das aulas começarem, mudei de idéia. Quis ir junto com ela e esses três anos devem ter sido os nossos melhores. Íamos de ônibus dando risada dos outros todos os dias, o bom humor dela contaminando minha rabugice. Guardávamos os segredos uma da outra, nos ajudávamos, éramos amigas.

Ela terminou o colégio e eu tive que lidar com as viagens de ônibus sozinha, calada, rabugenta. Ela passou um mês fora, voltou, entrou na faculdade, começou a dirigir e me levar para todos os lugares. De repente, a vida dela mudou e ela decidiu passar um ano fora. Embarcaria agora no início do ano e só voltaria pro meu casamento, em dezembro.

Um dia, indo pro trabalho, ela disse que aqueles eram os últimos dias que morávamos juntas, pois quando ela voltasse eu já ia me mudar para minha casa nova, e começou a chorar parada no trânsito. Fingi que não era comigo e fui levando.

Eu segurei o choro até os 45 do segundo tempo, pedi pra ela não esquecer de tudo que nossos pais nos ensinaram a vida toda, pra ela lembrar o por que de ter ido quando as coisas ficassem difíceis. E aí, minha irmã, um pedação de mim, embarcou. Sei que passa rápido, que nos falamos todos os dias, mas não é a mesma coisa, nunca mais vai ser. Os dias em que ela comia a sobremesa em câmera lenta enquanto eu devorava a minha em segundos e morria de inveja dela não voltam mais.

Nem preciso dizer que te amo.